Ônibus

             ... A jovem mulher acenou para que o ônibus parasse torcendo para que houvesse lugar para sentar. Entrou. Havia apenas um assento no meio do veículo. Agradeceu aos céus. Sentou, se acomodou e preparava-se para colocar os fones de ouvido quando o homem que estava ao seu lado perguntou quantas horas eram. “8:00”, respondeu normalmente. Pôs os fones, procurou uma música na pasta “outros” do seu mp4. O homem comentou qualquer coisa sobre o clima.

            Simara estava com sono. Dormiu pouco na noite passada, pois chegavam “aqueles dias”. Senti-se melhor naquele momento, mas queria dormir para poder trabalhar normalmente...

            O homem comentou sobre o noticiário da manhã que falava sobre o mais novo escândalo político em Brasília. Comentou também sobre a “filhinha” que ia se casar naquele mês. Comentou sobre o clima, a copa do mundo, as olimpíadas, a Ana Maria Braga, a faculdade no meio do ano, o carro novo que comprou, o leite que tomou, a greve dos rodoviários, os problemas no trabalho, a crise no sistema energético brasileiro, ufologia, pedofilia na igreja, o porquê de seu nome ser Ricardo, o porquê dos nomes de suas três filhas, como se casou... Falou tudo isso sem perceber que Simara não estava acordada...

 
          O ônibus balançou bruscamente e Simara acordou assustada. Olhou o relógio: “9:30”. Atrasada, olhou para a rua. Já havia passado da parada que deveria descer. “Droga!”, falou alto. Ricardo se assustou. Parou de falar. Simara puxou a corda do ônibus e desceu rapidamente naquela parada. Ricardo olhou para a moça descendo do ônibus desesperada.

            Simara corria para tentar chegar ao trabalho, no dia em que seria promovida. Ricardo tentava apenas entender por que a moça tinha descido do ônibus sem dizer tchau...


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Inspirado numa história da Emily;
Pensado num ônibus;
escrito numa aula, e
com folha e apontador da Josi...