Os Cães

Dando início a uma série de textos demonstrando minha estadia numa fazenda, em Mineiros - GO... vlw!

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...dois cachorros vieram correndo subindo a ladeira de barro seco e chegaram à porteira em poucos segundos. Do carro recém chegado, desceu um rapaz que a abriu para que o Ford entrasse e fechou em seguida. Os animais que o já haviam cumprimentado, seguiram o carro até que este chegasse à segunda porteira, alguns metros adiante e com acesso à casa principal, uma velha casa de alvenaria, com telhas coloniais mais velhas que muitos municípios no Brasil. Cinco pessoas desceram do carro que fora estacionado em uma garagem estreita, e já foram retirando malas e sacolas que estavam lá, deixando-as em uma sala lá perto. Os cachorros, excitados pela volta da família, circulavam as pessoas tentando descolar um afago qualquer, mas as pessoas estavam todas preocupadas demais em chegar em casa. Todos entraram logo e os cães ainda animados, foram para a outra saída da casa, onde todos costumavam ficar durante o dia. O resto da casa era resto.

Tico-tico
Tico-tico é um cachorro vira-lata de pequeno porte pouco preocupado com a vida. E está na fazenda há pouco tempo, quando foi trazido para ficar pouco tempo. Na hora de ir embora, ele fez birra e ficou. Hoje até que a família gosta dele, fazendo carinho e afagos. De cor alaranjada, Boris se destaca na paisagem, verde e marrom, na maioria das vezes, facilitando para que de longe possa ser visto correndo até a porteira. Seu rabo é sempre levantado, com vários pelos escandalosos se afastando dele. Tem um jeito meigo de se sentar: coloca as patas dianteiras juntas na frente do corpo e apóia o focinho ali, utilizando os olhos como pedidores de clemência  e piedade, implorando pelo amor de Deus por uma migalha de comida. Esse é o despreocupado Xaropinho (sim, além de Tico-tico e Xaropinho, ele ainda é chamado de Chulé).

Aruc
Aruc é o mais inquieto e difícil de mandar vira-lata que pode ser encontrado pela região. Ainda de médio porte, por ainda não ter um ano de idade, se diverte tentando colocar a sua cabeça na mão das pessoas para que elas façam carinho. Suas grandes orelhas estão constantemente levantadas, o que demonstra extrema curiosidade quanto ao barulho de uma manga que caiu de uma mangueira centenária ou ao assovio baixo, porém audível que qualquer passarinho descansando em uma árvore É um fanfarrão. Basta que lhe dêem apenas poucos segundos de atenção que ele já a quer toda. Pula, late, morde levemente a mão e fica colado na pessoa em busca de uma mexidinha detrás da orelha. Implica com os gatos – dos quais vou falar em algum outro texto – brincando de mordê-los e correr atrás de alguns mais saidinhos. Divertido e animado, segue as pessoas aonde elas forem e está sempre disposto para correr e fazer alguma coisa mais animada. Este é o disposto Aruc.

Um dia desses, coloquei meu velho tênis para secar ao sol, pois no dia anterior, eu o havia sujado e molhado no curral, ajudando a tirar leite, e ele realmente precisava de um sol forte para secar e remover todo aquele cheiro de mofo. Peguei-o no canto do quarto e levei para fora da casa, deixando-o em seguida em cima de um velho pneu dianteiro de um trator, onde os pequenos frisos dos carros de passeio foram substituídos por grandes frisos, para que mantenha a estabilidade em terrenos difíceis. O  tamanho, no entanto, era de um pneu de carro normal. Meu par ficou ali, o dia inteiro... E a noite... Que choveu...

Quando me lembrei do tênis, já era a manhã do outro dia. Já sabia que não usaria o tênis naquele dia, pois com toda a certeza eles estavam molhados. Voltei ao pneu, quando veio a surpresa. Um pé estava no chão e o outro, desaparecido. “Pronto!” pensei. Sem tênis para ficar numa fazenda. Lembrei-me de meu pai me pedindo para não usar o seu tênis novo ali na fazenda. Parecia que ele estava prevendo o que aconteceria... Olhei pra Maria que cortava algum vegetal na pia, no lugar movimentado da casa (que a partir de agora chamo de “área”) e mostrei apenas um pé do tênis.

            – Ah não! O Aruc pegou? – Perguntou preocupada, já limpando as mão para me ajudar a procurar. – Onde tava?

            – Em cima desse pneu aqui. – Indiquei o lugar.

            – Ixi!

– O Aruc quando pega as coisas costuma levar tudo lá pra cima... – Era Dona Iracema, que cozinhava alguma coisa no fogão à lenha indicando a parte direita da casa, um espaço inutilizado, com algumas árvores frutíferas e muito barro. – Procura lá, de certo ele largou lá.

Fui carregando o pé restante temeroso de encontrar meu tênis mergulhado no barro, todo comido e desgraçadamente inutilizado. Subi com minha sandália havaiana o caminho para a o lugar que Dona Iracema me indicara. Depois de vasculhar cada centímetro do chão, olhei para uma cerca que delimitava o espaço, e iniciava um pasto. Uma das madeiras que a formava estava mal ajeitada, permitindo que um cachorro passasse por lá...

“Não... Esse cachorro não levou meu tênis lá pra cima não...” pensei isso e dei meia volta, ia procurar em outro lugar. Na metade do caminho, ouço um latido voltado para mim: era Aruc, todo esticado, com as patas no chão e orelhas bem levantadas, nitidamente me chamando para atravessar a cerca.

Quando comecei a andar em sua direção, ele andou também, me indicando um caminho. Ao chegar perto dele, aproximei o pé do tenis que estava comigo para que ele sentisse o cheiro – bosta de vaca e mofo – e me levasse aonde ele havia deixado. Funcionando ou não, ele foi trotando mais excitado a uma direção. A essa altura, Tico-tico já havia se juntado à saída pelo pasto. Segui-os uns quinze metros até chegarmos a uma trilha cheia de água e bosta. Desisti de continuar após dar uma rápida olhada para a minha sandália. Voltei pelo mesmo caminho, pensando se eu deveria continuar. Vai que o cachorro sabia mesmo onde estava indo? Quando cheguei na área, vi que Maria estava procurando perto do galinheiro e Dona Iracema continuava a cozinhar.

– Achou, meu filho? – Perguntou.

– Não. – Sem esperança, encostei-me no corrimão da escada que levava à área. De pé, de frente para um velho barracão de madeira. Imediatamente me lembrei que já havia visto Aruc deitado ali dentro. Resolvi ir lá, só para constar. Subi o alto degrau e dando uma rápida olhada pelo chão, vi meu tênis, comido em suas extremidades, com uma parte do cadarço totalmente destruída, mas por incrível que pareça, seco.

– ACHEI MARIA! – Gritei anunciando a descoberta. Levei o tênis para a área e mostrei para Dona Iracema.

– Onde tava?

– No barracão... – Informei, indicando. – Sequinho!

– Ah! O Aruc fez foi guardar prô cê, oras! – Disse brincando. Todos riram mas eu não estava nem um pouco feliz com meu tênis comido. Querendo sair da situação logo, coloquei o par em cima de um toco de madeira, para aproveitar o sol. Parecia o fim de tudo.


Na hora do almoço, entretanto, enquanto todos comiam, pôde-se ver Aruc derrubando os tênis e pegando um pé...

– ARUC! – Lá fui eu correr atrás do maldito...


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^^ No próximo, eu vou falar das vacas leiteiras... Haha   Vlw!

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