#3 A Entrevista
– Muito bem – começou o famoso jornalista – Podemos começar?
– Sim.
– Qual o seu nome?
– Eu não sei. – O Buscador respondeu após ficar alguns segundos em reflexão. – Na verdade, eu não sei de muita coisa...
– Entendo... – O jornalista fez uma rápida anotação no pequeno bloco que segurava. – O senhor poderia me contar sobre o dia em que foi achado?
– Ah, eu só me lembro da Amanda... – O tom de voz era sóbreo, mas era claro que a pergunta incomodou o Buscador.
– Refiro-me a antes do senhor...
– Não precisa me chamar de “senhor” – Interrompeu.
– Gostaria de saber o que aconteceu antes de você ser encontrado pela garota... – Disse como se não tivesse sido interrompido.
– Ah, sim! – O Buscador esboçou um sorriso e coçou a nuca. – Eu não me lembro o que me fez perder a memória. Só me lembro de Lara...
– Como ela era?
– Ruiva, pele branca, com charmosas sardas nas buchechas, olhos castanhos, vestido preto com um decote maravilhoso... – um devaneio tomou conta do Buscador, que então parou de falar, olhando fixamente para um pequeno ponto preto na parede logo atrás do Jornalista.
– A polícia não fez um retrato falado?
– Fez, mas quando vi o resultado, o desenho não lembrava Lara nem um pouco. Acho que – começou a cochichar – colocaram um amador pra me ouvir...
– E o que os investigadores fizeram com o retrato?
– Compararam mesmo assim com as fotos que eles tinham em um computador.
– E acharam alguém?
– Acharam.
– E quem era? – o jornalista preparou o lápis para anotar.
– Lara.
– Hunf...
– Mas lá dizia que ela já tinha morrido.
– Depois que você foi encontrado?
– Não. – O Buscador olhou bem dentro dos olhos do jornalista experiente. – Dois anos antes!
– Mas e o que os investigadores fizeram?
– Pararam de procurar.
– Por que?
– Oras! – Ele estava confuso e estranhamente atordoado pela forte luz de um dos refletores que iluminavam a pequena sala mofada. – Porque a mulher já estava morta!
– Aí resolveram mandar você para o abrigo? – Concluiu.
– É.
– Mas por que não mandaram logo de cara?
– Porque – A luz ofuscava tanto os olhos como os pensamentos do homem. – alguém tinha tentado me matar!
– Por que simplesmente não mandaram você?
– Por causa de vocês! – O Buscador Indicou a câmera.
– Nós? – Ele ainda não tinha entendido.
– É, a TV me manteve na investigação. Se esse caso “extraordinário” não tivesse sido tão noticiado, me chamar de louco bastaria. Mas EU não sou louco. Eles é que seriam se deixassem todo o Brasil sem uma solução para o meu caso. Ah, aí você veria crise de mídia...
– Você está por dentro da media!
– Que acha? – o que falaria em seguida ele já havia planejado. – Eu leio revistas, vejo televisão. – Uma veia latejante saltou na testa do jornalista. – Estou numa delegacia, mas não estou preso. Não sou um criminoso. Eles só acham que é mais seguro. Claro que de vocês...
“Ainda por cima é ignorante!” O jornalista pensou por alguns instantes.
–... sabem que Belo horizonte não está muito afim de me ajudar.
– É, eu sei...
– Vem cá, foi você que escreveu aquela matéria sobre a Amanda?
– A senhorita Gurgel?
– É.
– Foi, e ela mereceu cada palavra daquele texto.
– "GAROTA ESTÚPIDA DO INTERIOR"!? – O Buscador esbravejou.
– Olha... – O jornalista tentava acalmar o homem enfurecido – O que eu quis dizer foi que...
– AH! CALE SUA BOCA! – O Buscador bateu com as mãos na mesa. – SE AQUELA "ESTÚPIDA" NÃO TIVESSE ENTRADO NAQUELA VALA, PROVAVELMENTE EU AINDA ESTARIA POR LÁ!
– Senhor, é melhor ficar calmo...
– CALMO!? ORAS! SABE PORQUE AMANDA SUMIU? – O Buscador cuspia enquanto gritava. – ELA FOI HUMILHADA! NINGUÉM EM JUUCLANTONN OLHAVA PRA ELA NORMALMENTE.
– É isso aí, você tem mais é que ir pro asilo mesmo. É doido!
– DOIDO!? DOIDO É A...
Numa forte dor na cabeça do Buscador fez com que ele caísse sobre a mesa e em seguida no chão. Enquanto lutava para se manter acordado superando a dor, flashes confusos surgiam em sua memória trazendo estranhas lembras...
A primeira coisa foi uma sequência de números. 25308547. Tentou associar com alguma coisa de que pudesse lembrar, mas o branco de memória ainda estava lá. A segunda coisa foi Lara. Ela contava alguma coisa muito séria mas ele não soube o que era. Parecia que brigavam. A terceira coisa assustou o Buscador. Um cartão de crédito estava na sua mão. Era seu nome que estava escrito: Fernando Klogue Silva. E era esse seu nome. E só ele sabia. E não pretendia contar pra ninguém. A não ser Amanda...
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Gostou? Comente o que você acha que os flashes significam! Talvez você possa definir os rumos da história!
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