No lixo!
– QUE É, DIABO? – respondeu a sua mãe,
chamada Wanda. Ela vestia um vestido vermelho, com um avental amarrado à cintura, que usava para secar
as mãos caso estivessem molhadas.
– Onde estão os papéis que estavam
aqui encima da minha mesa? – Pedro perguntou com medo da resposta. Eram papéis
importantes da faculdade, pesquisa para monografia. Perder aqueles papéis
significariam acrescentar um semestre na universidade.
– Joguei no lixo...– Wanda respondeu sem
preocupação.
– Ué, tava tudo jogado aqui na mesa aí
eu fui arrumar – Wanda apontou para o chão – e quando eu vi aquele
monte de papel eu joguei tudo fora. – explicou com calma.
– Mãe, aqueles eram papéis da minha
monografia... – Pedro explicou.
O tom agressivo passou para quase um miado. Ele já se via inventando uma desculpa para explicar o que aconteceu para seu orientador, Dr Jorge. O professor tinha fama de ser tão rígido com seus alunos que um dia, uma menina suicidou depois que ele falou que ela deveria fazer tudo novamente. E agora Pedro não tinha nada pra mostrar para ele.
O tom agressivo passou para quase um miado. Ele já se via inventando uma desculpa para explicar o que aconteceu para seu orientador, Dr Jorge. O professor tinha fama de ser tão rígido com seus alunos que um dia, uma menina suicidou depois que ele falou que ela deveria fazer tudo novamente. E agora Pedro não tinha nada pra mostrar para ele.
– Ah, vê se tá lá na lixeira... – Wanda
sugeriu humildemente. Ela estava preocupada com os papéis, mas sempre achou que
um susto faria o filho se tornar uma pessoa organizada e comprometida. Ela não
conseguia ver o quarto bagunçado do filho sem se perguntar onde havia errado.
Wanda era paranóica, viciada em limpeza e hiper organizada. Pedro era calmo,
bagunceiro e completamente desorganizado.
– Tá! – Pedro saiu do apartamento
correndo. Aquela era uma quinta-feira e geralmente, era o dia em que caminhão da
prefeitura ia recolher o lixo do prédio. Como já passava de 4 horas da tarde,
Pedro começava a se desesperar: se o caminhão ainda tivesse recolhido o lixo, estava
prestes. Eles moravam no 5º andar, mas Pedro não pegou o elevador, pois demoraria tempo demais. Desceu
pelas escadas, três degraus por vez. Quando chegou à última leva, tropeçou na metade e rolou escada abaixo, ficando imóvel no chão. Levantou com a cabeça doendo e
quando conseguiu se recuperar do impacto, ouviu um apito ao longe. Era o
caminhão que acabara de chegar. Ignorando a dor, saiu correndo e gritando
enquanto acenava para que os lixeiros parassem de carregar o caminhão. Se eles
comprimissem o lixo, seus papéis – e ele – estariam perdidos.
Pedro sempre reclamou da organização
extrema de sua mãe, mas naquele momento agradeceu: foi fácil achar três sacolas com lixo que sua mãe jogou: Uma verde, usada apenas para lixo orgânico, outra amarela para plásticos e uma azul com
os papéis. Pedro retirou a sacola azul que
já estava no caminhão e sentou numa calçada alí perto.
Depois de agradecer pela organização
de sua mãe Pedro se lembrou porque não gostava desse hábito. Wanda só jogava os
papéis fora quando juntasse uma sacola inteira de papel e, naquele momento, a
sacola estava cheia de velhos jornais, envelopes abertos, revistas e folhas
aleatórias. Eliminou logo tudo que não era parecido com folhas A4 e começou a vasculhar.
5 minutos depois verificou que seus
papéis não estavam lá. “Devia ter digitalizado tudo isso na semana passada...”,
pensava. Juntou tudo na sacola novamente e jogou dentro do caminhão de lixo.
Dirigiu-se às escadas. Enquanto subia, sentiu uma coceira na testa.
Coçou e reparou que estava quente. Achou estranho e instintivamente olhou para sua mão, que estava vermelha, pois sua cabeça sangrava. “Mãe, mãe, mãe...”, pensava. Entrou no apartamento e foi
direto para o quarto.
– O que houve com sua cabeça? – Wanda
perguntou preocupada, enquanto o filho passava pela cozinha.
– Caí da escada enquanto corria para o
térreo. – disse.
– Achou os papéis?
– Não.
– Você não deixou isso com alguém? –
Wanda sugeriu.
– Não... – respondeu. – ...ou deixei?
Pedro pegou o telefone celular e
discou um número.
– Alô, Dr. Jorge?
– Isso...
– Professor, sabe os papéis da
pesquisa? – se fosse um filme, Pedro ouviria uma música de suspense.
– Ainda não terminei de ler, por quê?
– Ah, nada não. – Agora a música teria
um ar de triunfo.
– Você é retardado? – Dr. Jorge mantinha o
tom de voz grave. – Pra quê me ligou?
– É que eu achei que tinha perdido
esses papéis... – explicou.
– Hum... – alguns segundos de silêncio se
seguiram. – Tá uma bosta isso aqui, faça de novo. – sentenciou.
– Tá... – a voz miada de Pedro voltara. E a música agora lembraria circo.
– E faz um favor? Tome mais cuidado
com suas coisas... E se eu fosse louco? – e sem se despedir, desligou.
Pedro começou a chorar e sua mãe voltou para da cozinha, com uma caixa de curativo na mão e um sorriso maldoso
delineado em seu rosto...
________
hehe
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