O Mistério do SexShop

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Já há muito tempo Mariângela não sentia falta do falecido marido. Dois anos haviam passado e ela era uma pessoa muito religiosa, confiante nos desígnios divinos: iria batalhar para poder garantir uma boa sentença no dia do Juízo. Submissa ao marido, não trabalhava, e quando ele morreu teve que assumir os negócios do homem da casa: um SexShop. Dois dias depois concluiu que venderia a loja, pois não poderia contribuir com a “banalização desenfreada do sexo”. Pensou se seu marido não estava destinado ao inferno.

O pastor Guilherme, no entanto, recomendou que ela mantivesse a loja por mais alguns meses, até que pudesse encontrar algo que lhe desse dinheiro. Com a venda da loja, ela poderia abrir outra menos agressiva aos olhos de Deus e seguir a sua vida. Mas o dia de fechar nunca chegou. Ela concluiu que a loja do falecido era bem frequentada e lucrava bastante. Mariângela apenas mudou o nome da loja de “Os Caminhos do Prazer” para “Os Caminhos do Amor”, o que ela considerava bem diferente do antigo conceito do falecido. 

Anos se passaram e, depois de um dia cansativo, Mariângela se preparava para dormir. Realizou o ritual de calçar pantufa/escovar os dentes/orar/prender os cabelos normalmente. Já passava da meia noite quando o telefone toca: era o segurança noturno do prédio onde a loja ficava. Os alarmes da loja dispararam e alguém precisava ir lá desligar. Ela se levantou, pegou a chave do carro, e com o celular ligou para a polícia. Quando chegou lá, nada estava fora do lugar. Exceto por uma cadeira que estava deitada no chão do principal salão de vendas da loja.

Durante 14 dias a cena se repetiu. Ela chamou todos os técnicos da cidade para verificar o alarme e ninguém encontrou algo errado. Mesmo se ela colocasse a cadeira trancada no banheiro, ela apareceria deitada no chão. Nos últimos dias Mariângela já não comia, dormia e agia como uma pessoa normal. Estava cheia de olheiras e a sua pele estava seca. Estava desequilibrada. Pastor Guilherme disse que era Satanás tentando atormentar uma mulher trabalhadora, e lá foi fazer sessão do descarrego no SexShop. Mas nada funcionava. Até que na décima quinta noite ela resolveu que iria ver o que acontece com os próprios olhos. 

No décimo quinto dia ela fez tudo com a maior normalidade possível: levantou, tomou café, foi para o trabalho, trabalhou e fechou a loja por dentro. Ela ficaria lá a noite toda se fosse necessário. Abriu a bíblia, mas não começou a ler. Mariângela estava sem a mínima condição de ler. Sua cabeça doía e seus olhos não conseguiam focar nas letras. Pacientemente, sentou-se à frente da caixa registradora e esperou imóvel até a meia noite. 5 horas. 4 horas. 3 horas. 2 horas. 1 hora e o coração começou a bater mais forte. 30 minutos e começou a suar. 15 minutos e começou a tremer. 5 minutos e lembrou-se de Deus. 2 minutos e batia as unhas no balcão. 1 minuto e levantou da cadeira. 30 segundos. 10 segundos. 5 segundos. Meia noite. 

Mariângela ouviu um barulho nos fundos da loja, e se virou rapidamente. Era como algo caindo de um lugar bem algo. O alarme disparou. Não havia nada. Sem explicação aparente, a cadeira em que ela estava sentada se moveu, sozinha, como num espasmo. Ela se lembrou de Deus. Mariângela começou a rezar o Pai Nosso, mas antes que chegasse ao “seja feita a tua vontade”, a cadeira tomou voo e pousou no lugar onde era encontrada todos os dias: o mesmo onde o falecido havia sido encontrado... 

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