Hospital - A Cidade Abandonada - Parte 3


Quando acordou, Patrícia estava presa a uma maca, pelos membros, troco e cabeça. Olhou toda a sala pelo canto dos olhos viu que Rafael estava ao seu lado em outra maca, inconsciente. Havia algo estranho em seu rosto. Tentou gritar na tentativa de acordá-lo, mas foi em vão. 

            Patricia concluiu que seria inútil tentar novamente e parou para tentar se lembrar o que havia acontecido e, a primeira coisa que pensou era que ela e Rafael haviam sido abduzidos. Porém,  observando o lugar onde estavam, não viu diferença das salas de hospitais da Terra. Com exceção de um estranho aparelho ligado ao dosador de soro. Estavam vivos e na Terra. Era o que importava.

            Olhou novamente para o rosto do namorado. Algo que Patrícia não sabia identificar o deixava diferente. Era o mesmo Rafael, claro, mas algo estava diferente. Ela tinha certeza. 

Depois de horas e muitas tentativas frustradas de acordar Rafael, Patrícia mantinha o olhar fixo no dosador, que não parava de pingar. Chegou a tentar contar as gotas, mas perdia a conta quando passava das duzentas. E por ser a única coisa em movimento na sala, era a única coisa que a mantinha acordada e paciente. Ela sabia que respostas chegariam quando alguém viesse trocar o tubo do soro, e concluiu também que o estranho aparelho era o que diria a equipe médica a hora certa da troca.

A adrenalina começou a correr por seu corpo quando o soro estava próximo do fim. E quando finalmente acabou, nada aconteceu. A frustração foi tão grande que ela começou a chorar. Fechou os olhos e respirou fundo. Fez de tudo para se acalmar mas o desespero foi tão grande que gritou. Rafael acordou.
 
“O que está havendo?” Rafael parecia tão confuso quanto Patrícia.

“Estamos em um hospital.” Patrícia respondeu, evitando deixar Rafael perceber a voz chorosa.

“Então nós conseguimos fugir daquelas coisas?” Rafael perguntou, mas Patrícia não tinha certeza ainda se saberia responder. Mesmo se os dois tivessem quatro pernas, pensou, eles não conseguiriam fugir daquela coisa. Ela só se lembrava de cair no chão e do escuro que se seguiu. 

“Eu acho que sim.”, mentiu. “Mas eu acho que eles nos pegaram... Não me lembro de nada. E você?”

“Só me lembro de correr. E mais nada...” Rafael disse, com a voz rouca. “Você também está presa?”

“Sim.”

“Que estranho.”
 
“É...”

“A quanto tempo você está acordada?” Rafael perguntou, sentido-se fraco por Patrícia ter acordado primeiro.

“Algumas horas.”

“E alguém já veio aqui?”

“Não,” Patricia olhou para o monitor do soro. “mas acho que alguém virá em breve.”

Mal terminara de falar e ambos ouviram barulho de chave na porta.

“Rafael,” Patrícia cochichou para Rafael “seja o que for, não fale nada! Finja que ainda está dormindo!”

“Tudo bem...”

Dois segundos depois uma enfermeira entrou no quarto, empurrando um carrinho com suplementos médicos. Por estar completamente imobilizada, Patricia podia ver pouco do que  a mulher estava fazendo, e raiva começou a surgir no canto mais escuro da sua mente. Depois de ouvir o barulho de pacotes sendo rasgados, Patrícia viu a enfermeira se aproximar do dosador. 

Sem perceber que Patrícia estava acordada, a jovem mulher trocou o tubo de soro e ajustou o dosador, que voltou a pingar e Patrícia estranhou o fato da mulher nem ter dado uma olhadinha. A enfermeira se afastou e voltou ao carrinho, de onde retirou um tablet para anotar alguma coisa sobre a paciente. Quando terminou, devolveu o aparelho para o carrinho e começou a andar em direção a porta. Ela estava indo embora.

“Enfermeira!”, Patricia a chamou e a mulher sem gritar e ela parou imediatamente. “O que está acontecendo?”

“Patrícia!” A enfermeira chegou mais perto para olhar Patrícia no rosto. “É você mesmo?”

“Ué!? E quem poderia ser?”

“Ninguém, mas...” A enfermeira hesitou.

“????”

“Eu vou chamar o Doutor!” E saiu.

“Que estranha essa enfermeira, Patrícia!” Rafael comentou logo depois que a enfermeira fechou a porta. 

“É verdade!” Patrícia lembrava do momento em que a enfermeira chegou perto e da expressão de incredulidade que fez. “Ela não parecia esperar que eu soubesse meu nome...”

“Parece que não, mesmo...”

Novamente o barulho das chaves na porta. Entraram a enfermeira, um homem de terno e um médico. Pelo que Patrícia conseguia ver, o médico era um homem de aparentemente quarenta anos e bonito, com porte atlético.

“Oi, Patricia!” O médico disse ao se aproximar.

“Oi!” Foi o que ela conseguiu responder depois que viu os olhos verdes do médico.

“Meu nome é Tiago e eu sou o seu médico de vocês dois.” Ele indicou Rafael com um movimento da cabeça.

“O que aconteceu?” Patrícia concluiu que já havia esperado demais para fazer essa pergunta.

“Você não se lembra?”

“Eu não sei...” Mentiu.

“O avião de vocês explodiu antes da decolagem para Juuclantonn.”

“O quê?” Patricia não entendeu.

“Somente você e Rafael sobreviveram.”

“Há quanto tempo estamos aqui?”

“Dez anos.”

“Dez anos...” Patricia repetiu para si mesma. Era isso o estranho no rosto de Rafael: ele estava mais velho...“E porque estamos amarrados?”

“Vocês chegaram dizendo que passearam pela cidade, que correram de algo que parecia uma nave espacial...” O médico olhou para o homem de terno. “Vocês estavam incontroláveis... Tivemos que prendê-los”

“E por que por dez anos?” 

“Frequentemente vocês acordavam, como agora, mas gritando e se debatendo. A solução que encontramos foi deixá-los amarrados.”

“Agora vamos deixá-la descansar, Doutor Tiago.” Finalmente a voz grave do homem de terno soou na sala.”

“Tudo bem. Rosana, afrouxe um pouco as travas dela, tá?” e saiu da sala acompanhado do homem misterioso. 

Quando chegou perto, a enfermeira tinha uma ruga de preocupação impressa na testa.

“Fuja daqui, Patrícia!” Ela disse, em voz baixa. “O que você se lembra foi tudo inserido... Eles estão fazendo experiências com pessoas aqui! Não acredite que foi tudo um sonho! Porque não foi sonho e nem real! Eles criaram tudo!”

“E tem mais gente aqui nesse lugar?”

“Centenas delas...”
 
“E como eu posso parar tudo isso?”

“Fazendo com que o teste que eles fizeram em vocês dois seja um fracasso...” 

E a enfermeira saiu.

...CONTINUA...