Limitações - A Cidade Abandonada Parte 2

            Quando Patrícia acordou, ficou surpresa por ainda estar viva. Afinal de contas, havia sobrevivido a uma explosão de um avião. E ela estava dentro dele. Respirou fundo e tentou abrir os olhos, mas não havia força suficiente e continuou parada. Tentou mexer as mãos mas não saiu do lugar. Esperou. Depois de alguns longos segundos, Patrícia respirou fundo e fez força: seus braços responderam fracamente. Respirou fundo outra uma vez, mas uma dor aguda impediu que o movimento se completasse. Alguma coisa estava errada.

            Abriu os olhos, e percebeu que ainda estava dentro da roupa de proteção. “Menos mal.” pensou. Patrícia reparou que os vidros de proteção do capacete do traje estavam intactos, e decidiu que se ela sobrevivesse àquilo tudo, parabenizaria o fabricante responsável pelos trajes. Ela esperou algum tempo para tentar outro movimento. Com medo de sentir dor novamente, ela começou a levantar a cabeça lentamente, e reparou que não havia dor. Talvez o problema fosse com as pernas. Observou que havia fogo e muita fumaça.

            Aos poucos, a energia de seu corpo retornava e Patrícia conseguiu mover os braços. Sua cabeça doía, e dois minutos depois entendeu o que havia acontecido: com a explosão do avião, ela foi arremessada vários metros, e estava presa pelas pernas em algum pedaço do avião. Impossível sair de lá sozinha.

            “RAFAEL!!!!!!!” Patrícia gritou para o namorado.

            “GRAÇAS A DEUS VOCÊ ESTÁ BEM!”, Rafael respondeu de algum lugar que Patrícia não alcançava com o olhar.

            “VOCÊ ESTÁ BEM?”, Patrícia se esforçou para projetar a voz o mais longe quanto pudesse, e ficou surpresa com a tecnologia da roupa.

            “ESTOU COM O BRAÇO MACHUCADO, MAS ESTOU BEM!”, Rafael respondeu. “ONDE VOCÊ ESTÁ?”

            “ESTOU PRESA EM ALGUMA COISA!” Ela disse. “QUANTO TEMPO DE OXIGÊNIO AINDA TEMOS?”

            “Não temos mais tempo.” A voz de Rafael soou mais perto. “Nosso oxigênio puro acabou há 20 minutos. O que você está respirando é o doce ar de Juuclantonn.”

            “Como é possível?”

            “Eu acho que não foi radiação que matou a Kelly.” Rafael concluiu. “Acha que vai conseguir andar?”

            “Acredito que sim!” Mesmo sem conseguir mover a perna ela sabia que podia ser só cãimbra.

            “Ok.” A voz de Rafael agora estava bem próxima. “Eu vou levantar o pedaço dessa asa e você se arrasta pra fora, tá?”

            “Tudo bem.”

            Cinco segundos depois ela sentiu que o peso que a prendia ao chão rapidamente sumiu. Era a hora de começar a se arrastar e, usando os braços, ela saiu. E suas pernas começaram a doer de forma insuportável. Era mesmo cãimbra.

            “Você consegue se levantar?” Rafael estava preocupado.

            “Me dê dois minutos...”

            “OK.”

            “Patrícia, vai demorar muito?” Rafael perguntou ansioso.

            “Minhas pernas estão doendo muito, Rafael!”

            “Então eu vou te carregar.” Rafael não disfarçou a preocupação. “Tem alguma coisa vindo muito rapidamente em nossa direção!”

            Patrícia esticou o pescoço e viu que algo grande e escuro voava a poucos metros de distância do chão em alta velocidade. A coisa estava bem longe, mas Patrícia sabia que em pouco tempo os alcançaria. Tentou esticar as pernas, mas o que conseguiu foi uma pontada de dor, e um grito escapou.

            Rafael não esperou que Patrícia tentasse se mover novamente e a colocou nas costas. A única chance que eles teriam seria voltar para a cidade e tentar se esconder em alguma loja da avenida principal. Sozinho, Rafael poderia cobrir a distância rapidamente, mas carregando a namorada... Colocou ela no chão, para surpresa de Patrícia.

“O que você está fazendo?” Patrícia perguntou quando Rafael começou a retirar o traje.
“Diminuindo o peso. Nós não conseguiremos chegar na cidade vestindo isso!” Rafael falava rápido, e não parou nem por um segundo.

“Mas isso é loucura!” Patrícia estava preocupada. “Nós vimos o que aconteceu com a Kelly!”

“Ah!” Rafael ignorou os argumentos de Patrícia e continou  o que estava fazendo. “Não foi a radiação que matou a Kelly, Patrícia.”

“Mas ela tirou a porcaria do capacete e morreu!” Patrícia ainda se recusava a tirar o traje.

“Amor, você tem que confiar em mim.” Rafael colocou as mãos no capacete de Patrícia e olhou nos olhos da namorada.

“Por favor, não faça isso!” Patrícia implorou, sabendo o que aconteceria em seguida. Um filete de lágrima percorreu seu rosto e milhares de pensamentos passaram por sua cabeça.
“Confie em mim.” Rafael disse antes de puxar o capacete...

E nada aconteceu.

“Mas se não foi radiação, o que pode ter sido?” Patrícia não entendia como podia estar viva.

“Já consegue andar?” Rafael não parava de olhar na direção do estranho objeto que estava mais próximo. “Eu tenho uma teoria, mas precisaremos sair daqui.”

“Se você me ajudar, eu conseguirei.” Patrícia disse enquanto tentava se levantar.

Ao mesmo tempo em que Rafael ajudava Patrícia, ele viu que algo estava estranho com o objeto. Era definitivamente uma nave espacial e apesar de ainda estar a poucos metros do chão, não o tocava. E não se movimentava mais, estava apenas parada.

Os dois começaram então uma caminhada apressada em direção à cidade, frequentemente olhando para trás para verificar o estado da coisa. Mal andaram 20 metros, um barulho semelhante a microfonia ecoou em todas as direções. As portas da nave estavam abrindo.

Rafael e Patrícia começaram a correr, e ao olhar novamente, várias coisas saíram da nave, movendo-se rapidamente no chão.

“ESTAMOS PERDIDOS!” Patrícia gritou desesperada. “É UMA INVASÃO!”

“SÓ TEMOS UMA SAÍDA: CHEGAR À CIDADE!” Rafael puxava Patrícia. “SE FICARMOS EXPOSTOS, SÓ DEUS SABE O QUE SERÁ DE NÓS!”

E correram...

...CONTINUA...

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