Esquecimento - Parte final A Cidade Abandonada

Patrícia já estava cansada de olhar as gotas do dosador. E também de olhar para Rafael dormindo. Ela se perguntava como podia uma pessoa dormir tanto tempo. Será que era esperado que ela dormisse muito também? Será que ele estava bem? Será que ela estava bem? Decidiu esperar. Há várias horas não aparecia uma pessoa na sala. 

Patrícia tentou outra vez se livrar das amarras que a prendiam na maca. Sem sucesso. Só lhe restava esperar e pensar no conselho da enfermeira dado ha poucos dias... Como fracassar um plano do qual não se sabe os detalhes? Talvez se...

A linha de pensamento que Patrícia estava para começar a desenvolver foi interrompida por um forte barulho vindo do lado de fora da sala. Era como se algo tivesse sido derrubado. Em seguida o barulho das chaves na porta. A porta abriu. Entrou apenas o homem misterioso, vestindo o mesmo terno que usava quando Patrícia o viu pela primeira vez. Ele estava igual, com exceção do seu cabelo, que estava desarrumado. 

“Finalmente alguém veio aqui!” Patrícia falou para o homem. Ele parou ao lado da maca de Patrícia, mas mantinha o olhar em Rafael. 

“Do que você se lembra?” Ele perguntou de uma vez.

“Do que eu devo me lembrar?” Patrícia fez questão de deixar o tom de sua voz agressivo.

“Oras, de tudo antes daqui.” Ele respondeu.

“Qual seu nome?” Patrícia precisava pelo menos dessa informação.

“E isso é importante?” O homem puxou uma cadeira no canto da sala e se sentou de forma que Patrícia não podia vê-lo claramente. 

“Pra mim é.” Respondeu irritada. 

“Geraldo.” Ele falou.

“Você tá mentindo.” Patrícia disse ao ouvir o homem falar o próprio nome. “Ninguém fala o ‘l’ como você usou agora.” Patrícia era boa com sotaques. 

“Ok, meu nome é Renato.”

“Oi, Renato.” Patrícia se esforçou para olhar o homem. “Eu sou a Carla.”

“Você é boa, Patrícia...” Ele se levantou e pôs seu rosto bem perto do de Patrícia. “Meu nome é João, prazer.”

“Fala logo o que você quer!” Patrícia estava muito irritada para joguinhos.

“O que você se lembra sobre Juuclantonn?”

“O que é Juuclantonn?” Ela foi sincera. Não se lembrava. 

“Uma cidade.”

“E o que que tem ela?” Ela estava confusa. O nome lhe parecia familiar, mas não sabia de onde o conhecia. 

“Você morava nela.” João falava sem mudar o tom da voz. “Não se lembra?”

“Ué, pra mim eu só morei em São Paulo” Patrícia sentiu um arrepio. Algo estava errado. Principalmente depois que ela viu o sorriso no canto do rosto do homem. Nessa hora a voz de Rafael preencheu a sala. 

“Você tem que se lembrar, Patrícia!” Ele disse. “Só assim a gente vai poder sair daqui!” 

João não falou nada. Ficou só olhando. Juuclantonn era um lugar? Era algo que lhe significava? Tentou se lembrar da infância, mas só viu os paralelepípedos da rua Santa Maria em São Paulo. 

“Lembra da árvore, Patrícia!” Rafael falou, choroso.

“Árvore?” Patrícia começou a chorar. 

“Onde você deu o primeiro beijo!” Rafael estava desesperado. João começou a rir.

“Lembra do meteoro, Patrícia!” Foi a última coisa que Rafael disse antes que João lhe batesse na cabeça e desmaiasse. 

João pegou o telefone e discou um número longo. “Jorge, Ela se esqueceu. O soro deu certo.” Falou sem esconder de Patrícia. “Onde eu te encontro? Ok.” E saiu da sala, trancando ao final. 

Se Patrícia era a experiência que deu certo, então o tal soro seria fabricado. E se Rafael não tivesse falado do meteoro ela nunca se lembraria de Juuclantonn. E ela também não saberia que o soro é falho, afinal de contas, ela se lembrou de Juuclantonn quando a imagem do meteoro caindo na cidade lhe voltou à mente. Era questão de tempo sair daquele hospital – se é que era um hospital mesmo – e ser testada com jogos de memória. Serão tempos difíceis. 

Patrícia agora só precisaria descobrir quem era Jorge e o que realmente aconteceu com Juuclantonn...

Fim
Por Enquanto...

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