O Pesadelo dos Adúlteros



Ivan acordou assustado naquela madrugada. Havia muito tempo que ele não tinha um pesadelo. Levantou da cama, saiu do quarto e foi para a sacada do pequeno apartamento. Era a madrugada de quinta-feira e ele sabia que teria um dia agitado. Apoiou-se com os braços na grade de proteção e olhou até onde sua visão permitia.

A cidade estava congelada; a ausência de nuvens no céu e de lua deixava tudo como se fosse uma foto. Olhou para a rua onde o seu prédio estava e não se surpreendeu quando viu Antônio, um mendigo que sempre dormia na portaria do prédio. Voltou para dentro do apartamento e preparou um café.

Ivan se perguntou qual seria o próximo passo. Ou ele teria de voltar pra cama e dormir, ou ligaria a televisão para tentar pegar no sono na sala mesmo. A terceira opção seria tomar banho, mas ele estava com preguiça demais para isso. Ligou a TV.

Passava um filme que Ivan tinha certeza que já tinha visto, mas não conseguia se lembrar nem do nome ou da história. As cenas aconteciam e automaticamente ele sabia que já tinha visto aquela cena. Um homem apontava a arma para outro na televisão e falava “Você já está morto, cara!” e atirava. Com o barulho da arma, Ivan acordou assustado no sofá com a televisão desligada.

Decidiu então que ficaria acordado, já que a tela dos sonhos estava muito densa e difícil de se fazer uma boa pintura. Preparou um café. Sentou no sofá e olhou para a televisão e pensou: como ele se manteria acordado até a chegada da manhã? Ivan precisava de algo para lhe distrair. Levantou-se e foi para a sacada – estava assustado com o atirador do filme. Olhou a cidade parada mais uma vez e ficou alguns minutos com o olhar fixo em uma árvore pequena. Sentiu sono e sentou-se no sofá. Ligou a televisão. O mesmo filme passava, mas agora Ivan era o ator com a arma na mão. Ele olhou para a câmera e disse “Você já está morto, cara!” e atirou.

Ivan acordou assustado no seu quarto. Levantou-se mais uma vez e foi para a sacada. Havia um carro subindo a rua e depois que ele virou a esquina, nada mais se mexeu. Foi à cozinha e preparou um café. Sentou-se no sofá, ligou a televisão. Passava um filme que Ivan achava que já havia visto...

Antes que tudo se repetisse outra vez, Ivan foi tomar banho e depois deitou-se na cama. Não queria dormir outra vez. Mais sono. Seus olhos pesaram. Foi à cozinha, preparou um café e se sentou no sofá. O sono apertou. Ligou a Televisão e estava passando um filme onde um cara apontava uma arma para a câmera. Já tinha visto aquele filme. O homem atirou e ele acordou com a luz do dia entrando pela janela.

Levantou e foi para a sacada. Havia vida na cidade novamente. Antônio já havia saído para catar latinhas na rua. Foi para a cozinha e viu que havia três canecas de café não bebido na mesa de centro da sala. Tomou banho e se arrumou. Quando abriu a porta do apartamento para ir trabalhar, o marido de sua namorada estava apontando uma arma pra ele dizendo “Você já está morto, cara!”. O homem puxou o gatilho e Ivan caiu morto com um tiro no olho.

Ivan acordou assustado naquela madrugada. Havia muito tempo que ele não tinha um pesadelo...

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