O Silêncio de Jordânia
Era 1 hora da manhã e Jordânia não sabia mais o que fazer para dormir. Já havia tentado pegar no sono após fazer alongamento, ouvir música e tomar chá. Selma, sua amiga, dormia na cama ao lado num sono digno de inveja, tão profundo era. A luz do poste invadindo o quarto como um sol decadente chamava a atenção mesmo se os olhos estivessem fechados. Jordânia passou a contar carneiros saltando uma cerca.
30 segundos depois pensou em ligar a televisão e ver a primeira coisa que tivesse passando, mas desistiu logo depois de lembrar que não entenderia uma palavra do que era falado na televisão estrangeira. Lembrou também que atrapalharia o sono de Selma, que não tinha nada a ver com as suas incapacidades patológicas de se auto-desligar.
Respirou fundo, pôs a língua no céu da boca e imaginou uma tal de luz azul, que supostamente lhe daria paz e parou depois de alguns minutos: seus pensamentos corriam rápido demais para meditar e Jordânia não era treinada o suficiente para pensar simultaneamente no movimento da barriga e na energia que supostamente percorre o seu corpo. Invejou o instrutor de meditação que ela e Selma encontraram passeando pela cidade, mas logo lembrou das costelas que via evidenciando uma possível dieta à base de vegetais e rapidamente sua mente lhe mostrou uma pizza de calabresa. Sua barriga roncou anunciando que o resto da noite seria difícil.
Antes que enlouquecesse, Jordânia fez a úúltima coisa que poderia fazer e, no desespero da noite sem dormir, calou os pensamentos.
Por vários longos segundos a respiração de Selma dominou o som do silêncio no quarto, logo superada pelo tic-tac de um relógio na parede do corredor do hotel, seguido de um ranger de alguma janela quebrada por conta da última grande tempestade. Do ranger das dobradiças passou a ouvir um cachorro malandro latindo em alguma viela distante e ainda mais ao longe ouviu um homem correndo, provavelmente com alguma coisa roubada. Acompanhou a correria até que o bandido virou alguma esquina e antes que tentasse continuar a seguí-lo, uma forte ventania varreu a rua e o assovio do vento passando pelos fios juntamente com o cheiro de terra molhada fizeram Jorndânia se sentir mal por causa da chuva que viria, mas antes que a ideia de perder um dia da viagem lhe importunasse...
I'm walking in the sunshine, hey hey!
O alarme do celular de Selma apitou e Jordânia olhou no radio-relógio do criado mudo e levou um susto quando viu a hora: 7:30. Era um dia perfeito para turismo.