Baita Solo de Guitarra
Aquele era sem dúvidas um baita solo de guitarra; todos os anos estudando guitarra com aquele professor caro finalmente faziam efeito na pessoa de Daniel, que animava um público de 300 pessoas num pequeno pub no centro da cidade. Pressionou um botão do pedal no chão e a distorção ficou mais pesada, sustentando um eco criado pelo aparelho e a palheta vermelha tocou a primeira corda. Os barmans pararam imediatamente de sacudir as coqueteleiras; o público congelou; o ar parou; Era um baita solo!
Quanto tempo aquela apresentação durou, ninguém soube dizer — todo mundo só sabia que tinha sido muito boa, e muitos até foram receber Daniel quando este desceu do palco para parabenizá-lo. Ele estava em êxtase pelo que acabara de fazer, mas só tinha uma coisa na cabeça: onde estaria Marina?
Até que Daniel recebeu, com um sorriso falsamente falso estampado no rosto, os elogios e carinhos distribuídos e, para fugir da “multidão” que tentava lhe dizer qualquer coisa que ele não estava interessado. Daniel foi para o banheiro. E chorou.
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Daniel apertou a buzina por alguns segundos e não houve resposta. Impaciente, saiu do carro e foi bater no portão da casa, mas também não houve resposta. Voltou pro carro, pegou o celular e discou outra vez o único número para qual ligava — e prometeu para si mesmo que aquela seria a última tentativa. Tocou, tocou, tocou e Marina atendeu.
— Oi, anjo! — A voz dela era calma.
— Porra, Marina! Que que tu tava fazeno?
— Tomando banho, ué! — Teria sido aquele um tom de cinismo?
— Te dou cinco minuto pra tu tá aqui no carro, senão te deixo aí.
— Cara, eu tenho que me maquiar!
— CIN-CO minutos. — Daniel fez questão de separar as sílabas.
— OK. — Ela desligou o telefone.
Nenhum dos dois falou durante o caminho até o pub e Daniel ligou o rádio. Escutaram sem paciência a Voz do Brasil e, o silêncio de Marina que se maquiava, o corroía.
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Quando chegaram, Daniel foi falar com o dono do pub e Marina pediu uma cerveja e bebeu tudo de uma vez. Dançava, sozinha. E logo a cerveja era quatro cervejas, duas caipirinhas e uma dose e meia de tequila (emprestada de um rapaz que ela conhecera naquela mesma noite). Marina dançava alegremente alterada e fora de ritmo. E um homem que não era o Daniel aproximou-se dela, que ria alto, e a puxou pela cintura, tascando-lhe um beijão, correspondido. Nessa hora o corno apareceu — e faltavam poucos minutos para começar a apresentação.
Daniel pegou o braço da namorada acoplada à boca do outro imbecil e a puxou para longe. O cara até foi para cima dele pagar sapo, mas Daniel conseguiu despistá-lo no meio das pessoas que se agrupavam na frente do palco. Daniel observou que ninguém parecia gostar do som que três caras faziam e jogou Marina num banco quando chegou em uma das paredes do pub, mais à direita do palco.
Ele não falou nada, ficou apenas encarando Marina, agora séria. Alguns longos segundos se passaram.
— Você é um bosta. — Ela disse, finalmente.
Antes que Daniel pudesse dizer qualquer coisa, o dono do pub se aproximou e o chamou. Ele devia ir para de trás do palco. E foi. Olhou para trás e viu Marina sair da mesa, cambaleante.
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Meio tonto com a situação, Daniel subiu ao palco e começou aquele que era sem dúvidas, um baita solo de guitarra.
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