O Bosque dos Ipês Amarelos
Pedro caminhava devagar pela calçada antiga; até o grande e velho portão de pedra, eram mais ou menos setecentos metros de caminhada. Às duas horas da tarde, o sol escondia-se do outro lado do muro que acompanhava a calçada e, como era domingo, só alguns carros passavam na rua. Pedro esperara e planejara por vários meses aquele passeio, imaginando um momento que ele talvez não teria oportunidade de repetir: estava prestes a entrar no Bosque dos Ipês Amarelos.
Quanto mais Pedro andava pela beirada daquele muro, mais o perfume do que ele imaginava serem milhares de flores de ipê aumentava a sua curiosidade, e Pedro sentiu seu coração dar dois pulos e uma pirueta, deixando o cérebro meio que sem ar e desorientado. Ele parou como conseqüência, fechou os olhos, concentrou-se nos diferentes cheiros que lhe atraíam a atenção e respirou fundo. Não teve pressa: queria que aquela fosse uma experiência multi-sensorial, completa e inesquecível. E seria.
Quanto mais Pedro andava pela beirada daquele muro, mais o perfume do que ele imaginava serem milhares de flores de ipê aumentava a sua curiosidade, e Pedro sentiu seu coração dar dois pulos e uma pirueta, deixando o cérebro meio que sem ar e desorientado. Ele parou como conseqüência, fechou os olhos, concentrou-se nos diferentes cheiros que lhe atraíam a atenção e respirou fundo. Não teve pressa: queria que aquela fosse uma experiência multi-sensorial, completa e inesquecível. E seria.
Pedro andou até o portão, feito com pedras centenárias nas bases e grossas barras de metal e fechou os olhos antes que pudesse ver o que havia além. Devagar, pôs as mãos na grade do portão, apoiou a cabeça entre duas barras e um arrepio percorreu-lhe a espinha quando o metal gelado tocou seu rosto. Respirou fundo e abriu os olhos.
A imagem que Pedro viu era tão emocionante que seus olhos encheram-se de lágrimas e involuntariamente suas mãos se ergueram, se encontrando na frente de sua boca e tapando-a. Eram tantos os Ipês Amarelos que se amontoavam naquele espaço que o chão parecia também a copa colorida das árvores. Os Ipês possuem floração de pouca duração, logo, milhares de flores caídas formavam um tapete amarelo, que Pedro pisava à contragosto. Naquela hora, o Sol se escondera atrás de um morro não tão distante, mas iluminava suntuosamente e discretamente aquele santuário de cor amarelada de forma tão mais incrível do que aquele pobre rapaz da cidade poderia imaginar.
Pedro deu alguns passos além do portão e tocou a primeira árvore, a mais próxima, e sentiu outro arrepio; um impulso de sair correndo lhe veio à mente e ele obedeceu, correndo até sentir dificuldade para respirar, bosque adentro. Após alguns minutos, ele caiu no chão, exausto, e esticando os braços, pegou algumas flores e fechou as mãos com força. Mesmo quase sem ar e as pernas doendo pelo esforço repentino, Pedro queria continuar correndo; mas ao invés disso, sentou-se.
Após recuperar o fôlego, pôs-se em postura de meditação. Pedro ouvia o som das formigas trabalhando entre as flores no chão, como minúsculas trabalhadoras cercadas de amarelo, ouviu um pequeno riacho distante, que ele não sabia que existia; ouviu o barulho do vento movendo os galhos lotados de flores, que com o movimento caíam no chão emitindo um baque suave; ouviu o som de alguns pássaros que cantavam alegremente; ouviu a própria respiração e como ela era modificada por aquele ambiente. Levantou-se e abriu os braços, tentando absorver as energias daquela natureza incrivelmente bela e girou o corpo, batendo a mão numa árvore próxima que lhe escapara da visão.
Despertado do transe, sacudiu a mão para aliviar a dor e olhou para cima. O céu azul contrastava com o amarelo das flores e um pensamento vago ecoou em sua cabeça: "como será lá de cima?" e, procurando a árvore mais alta que ele pôde identificar, começou uma difícil escalada, superando primeiramente o grande caule reto e chegando até as suas primeiras ramificações. Pedro reparou que a sua intervenção derrubava muitas flores e por um momento até se arrependeu. Lembrou-se rapidamente, porém, da vista que lhe aguardava quando ele chegasse à copa daquela árvore.
Poucos minutos depois ele lá chegou. Esticou o pescoço e olhou a pequena floresta amarela se estendendo pelo espaço que Pedro julgou como um ou dois campos de futebol e teve uma rápida visão do muro nos limites do bosque. Rápida porque infelizmente o momento de contemplação não durou muito: o galho em que ele se apoiava cedeu e Pedro despencou, cortando-se em vários lugares na árvore bastante ramificada e caindo de costas no chão, sem ar. Não desmaiou e sentia dores em todos os lugares. Abriu os olhos e movendo-se lentamente, percebeu que ainda podia mexer o corpo.
...
Pedro caminhava até o grande e velho portão de pedra com dificuldade. Ele tentava concluir se a vista valera a queda e não percebia que, por onde andava, um rastro de sangue manchava de vermelho aquele paraíso amarelo...