A marcha dos sem-rumo

Me vi caminhando, 
só caminhando, descendo
uma rua

As ruas eram familiares
e eu nãos sabia porque 
caminhava

Eu de branco, meio em trapos
destruía minha roupa
pisando no barro, chovia

Logo a água formou enchurrada
mas atordoado, só andava
praticamente flutuava

Aí eu percebi que havia
mais gente. Mendigos
mancos, doidos, doentes

Um deles, percebendo minha
dificuldade para andar, 
me abraçou para ajudar

E esse grupo degenerado
em marcha sem rumo
descia o rio de lama

O que eu fazia ali 
se não estou doente
nem manco nem doido?

O doido que me ajudava
me levou para uma casa
de luzes brancas

Recebido por um rapaz 
gentil, me acolheu até
que o torpor sumiu

Me percebi longe de casa
e quis voltar, mas apressei
o passo. Chorei muito

Cruzei com pessoas que 
viam meu choro empaticamente
mas eu fugia, só queria chegar

Uma festa era preparada
na frente de uma casa
um baile para velhinhos

Uma menina que reconheci
me reconheceu, fugi
envergonhado

Um shopping enorme vazio
surgiu. Uma amiga me viu
e falou de longe

Sua voz ecoava por auto
falantes desconhecidos e
um telão mostrava sua imagem

Era uma mensagem de algo
que ela guardava pra mim
um texto que me prometera

Peguei, continuei andando
mais cidade, mais gente
na rua. Agonia

Acordei

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