Desafios da sala de aula online

Tem sido difícil pensar em como criar um ambiente virtual que favoreça a real troca entre professores e alunos e entre alunos. As Universidades conseguiram se adaptar rapidamente pois o Ensino Superior utiliza muito das aulas expositivas e basta criar uma reunião de vídeo com um Power Point e tá tudo certo. Junta-se um bocado de conceitos, lê, mostra exemplos, ensina o modelo X e verifica se os alunos retêm e são capazes de aplicar os conceitos apresentados e fim.

O problema é que o Ensino Básico não funciona da mesma forma. Se a gente fala em formar cidadãos, como realizar esse feito sem a presença física dos indivíduos nesse processo? Como explorar as competências sociais se as nossas interações estão dificultadas? Como ensinar letramento em uma plataforma de interação baseada inteiramente na leitura? Como podemos explorar as capacidades da plataforma com usuários que ainda não são capazes de ler apropriadamente?

Refletindo sobre essas questões eu percebo que a Internet mudou pouco desde seu início. Há quase 15 ano eu iniciava meus estudos sobre programação. Aprendi a lógica da programação para poder personalizar minha página pessoal, meu blog (saudades de quando todo mundo tinha um). Infelizmente eu nunca aprofundei os estudos. Quando as grandes empresas de tecnologia começaram a oferecer aos usuários plataformas intuitivas para inserção e consumo de informações, engajando as pessoas em comentário simplistas e facilmente compartilháveis, toda a necessidade de se discutir e aprender sobre a estrutura da rede foi deixada de lado. As redes sociais são basicamente hubs de recepção e consumo de imagens estáticas ou em movimento. Texto é secundário. Nunca se levou tanto a sério a expressão “Uma imagem vale mais que 1000 palavras”. Nunca pensamos que, olha a ironia, em um ambiente completamente lógico e baseado em códigos são as imagens que dominam, maravilhados que somos pelo mundo das imagens e a possibilidade de mostrar o que estamos vendo.

Não evoluímos muito no quesito de facilitar e estimular a apropriação da linguagem da internet para que os usuários se apropriem e também criem, expressando suas individualidades. Lembro um dia de ler que aprender a codificar seria um pré-requisito para o mundo da internet. E estamos aqui, em pleno 2020, sofrendo com problemas de “incorporação”. Somos confrontados com nossa incapacidade de desenhar códigos para personalizar as nossas interações online. Somos incapazes de criar ambientes pois fomos acostumados a só subir fotos ou textos no Instagram. Antes do iPhone, das telas sensíveis ao toque e as redes sociais, a internet era basicamente a mesma que é agora.

Aceitamos passivamente as plataformas das grandes empresas em detrimento da possibilidade de contribuição individual que a rede oferece. Trocamos uma comunicação individual criativa e processual por uma outra massiva e ultrarrápida. Nossa presença online envolve aprender a codificar, a contribuir com o código-fonte para sermos capazes de nos expressar como queremos, respeitando nossas particularidades e interesses.

Como a Educação vai, agora, recuperar o tempo perdido para as redes sociais? Como vamos utilizar esses sistemas que evoluíram pouco em formato? Vamos tornar a sala de aula uma rede social efêmera e rápida ou um ambiente de construção coletiva? Como podemos contribuir para a sala de aula online?


tags: ensino remoto, pandemia, distanciamento social, internet, programação, letramento digital

 

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