Carta 10.5573.6262
Precisamos falar sobre o adoecimento da mente
Estou diante deste computador, mãos hesitantes sobre o teclado, sentindo-me quase compelido a deixar fluir os pensamentos que têm se acumulado em minha mente. É uma mistura de urgência e incerteza, um desejo ardente de expressar algo que ainda não consigo definir completamente. Talvez seja essa a natureza de todas as grandes inquietações; elas não chegam a nós completamente formadas, mas como nuvens que pouco a pouco tomam forma no céu de nossas consciências.
Esses pensamentos são um emaranhado de perguntas e desconfortos, uma série de indignações que parecem brotar de um solo fértil de contradições e conflitos internos. Eu poderia tentar ignorá-los, claro, mas algo dentro de mim se rebela contra a ideia de silêncio e conformidade. É como se, ao me deparar com essas questões, uma parte de mim exigisse voz e visibilidade, um lugar ao sol em um dia claro.
O assunto que tenta se desenrolar em palavras é complexo, quase tabu. Muitos evitam tocar nesse ponto, talvez por medo, talvez por desconhecimento. Mas é justamente a necessidade de discutir esses temas considerados proibidos que me motiva. Observo ao redor e vejo as muitas maneiras pelas quais as religiões e crenças diversas formam o que chamo de uma visão míope da existência — uma visão que insiste em uniformidade, em conformidade, em uma homogeneidade que sufoca.
Há nisso tudo uma ironia dolorosa: a cobrança por igualdade se transforma em uma pressão por uniformidade. É uma cobrança que não vem de fora; é autoimposta, uma voz interna que ecoa o coro repetitivo e incessante de uma sociedade que vê o mundo através de uma única lente. E enquanto essa narrativa única é propagada, aqueles que diferem, que desafiam o padrão, que se atrevem a viver de acordo com suas próprias formas e verdade, encontram-se cada vez mais marginalizados.
Essa marginalização não é apenas social; é uma perda de identidade, um desvanecer-se de si mesmo. Aqueles que não se encaixam no molde pré-estabelecido lutam, muitas vezes em vão, para manter sua forma, sua essência. Eles se desgastam na tentativa de se preservar contra a erosão causada pelo julgamento, pela incompreensão e pelo isolamento.
Mas aqui, neste espaço entre mim e as palavras que tento formar, existe uma oportunidade. Uma chance de dialogar, de explorar essas dores e lutas, e talvez, de encontrar alguma forma de consolo ou mesmo de solução. A escrita, então, torna-se não apenas um ato de expressão, mas de resistência. É um desafio ao status quo, uma recusa a aceitar o mundo como ele é apresentado, uma tentativa de enxergar além do visível e questionar o que foi imposto como verdade universal.
E assim, enquanto as palavras fluem, sinto que algo dentro de mim se acalma, ganha clareza. Escrever sobre isso é reconhecer que, embora a jornada seja solitária e muitas vezes árdua, não estou completamente só. Há outros que compartilham dessas reflexões, dessas lutas, e talvez, juntos, possamos encontrar novos caminhos e formas mais autênticas de existir
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