#2 O buscador



... e estamos na delegacia de polícia de Juuclantonn acompanhando a transferência do homem que, há dois meses, foi encontrado quase morto numa vala num matagal da rodovia às margens da cidade com um buquet de flores numa mão, uma caixa na outra e apenas uma coisa na memória: O nome de uma mulher a quem pediu em casamento, Lara. Depois de tanto tempo, os investigadores não conseguiram descobrir quem ele é, de onde vem e o que estava fazendo em Juuclantonn, uma pacata cidade de Minas Gerais. O inquérito que já causou a demissão de 3 delegados ainda está na boca do povo dessa cidade de 15 mil habitantes. O atual delegado responsável pela investigação declarou que em breve divulgará novas informações sobre o...

            Juuclantonn nunca foi uma cidade muito movimentada e naquela hora, pelo menos 70% de toda a cidade estava sintonizada com algum meio de comunicação que noticiasse o que estava acontecendo com O Buscador. Dois meses haviam se passado desde que um homem de aparentemente 40 anos tinha sido encontrado por Amanda murmurando coisas estranhas em uma rodovia que corta a cidade. A situação foi tão estranha, que as grandes emissoras de televisão se aproveitaram do evento e transformaram “aquele” homem no “Homem”: montaram acampamentos, investigaram por conta própria e acabaram causando a demissão de várias pessoas da cidade. Pressionado, o prefeito da cidade, o Senhor Primeiro, prometeu que pediria ajuda da polícia da capital para resolução do caso, mas a única coisa que veio de Belo Horizonte foi uma multidão de curiosos para conhecer o “Buscador”, o homem que provavelmente levou um fora, insistiu e acabou levando uma bela pancada na  cabeça. 

             A cidade estava um caos. O único hotel da cidade não dispunha de mais vagas – além dos quartos, as vagas de estacionamento foram cedidas a grupos de curiosos dispostos a acampar em um lugar seguro – e as pessoas começaram a se amontoar na praça central da cidade, onde havia uma bela fonte luminosa. Várias pessoas foram presas acusadas de atentado ao pudor por tomar banho sem roupas. Nos bairros mais distantes da cidade predominantemente rural, grupos de trabalhadores rurais sem teto, iniciavam um assentamento,  reinvidicando espaço na mídia para os seus próprios dramas, o que só serviu para ampliar a atenção ao que acontecia na cidade naquele momento: De regional, a audiência agora era nacional.

           Juuclantonn já estava acostumada a receber eventos de médio porte; havia a exposição agropecuária que trazia gente de toda a região, atraídos pelas famosos convidados para aqueles poucos dias. A cidade ficava cheia, mas não se comparava a duzentas pessoas alojadas em uma quadra de esportes, como estava acontecendo naqueles dias. Uma única vez algo semelhante aconteceu foi 30 anos antes do homem aparecer, quando a cidade ficou movimentada por causa de uma menina que foi “possuída pelo espírito maligno de Jorge Tavares de Almeida, o coveiro”. Mas em duas semanas a história já tinha sido esquecida: não havia televisão para aumentar o fogo. E nem gente disposta a investigar aquela história macabra. 

            Quando o Buscador apareceu, foi como se toda a atenção do país de voltasse para uma pequena cidade do interior mineiro. Imagine só: o país inteiro envolvido com a crise criativa da imprensa e de repente, surge um homem misterioso, carregando flores e com o nome de uma mulher na cabeça. Era tudo o que os veículos de comunicação de massa precisavam para alavancar sua audiência e reafirmar a força de uma boa notícia. O fato foi tão noticiado que chegou a se tornar difícil encontrar uma pessoa do Brasil  que não estivesse ciente  do que se passava em Juuclantonn. 

             Dezenas de vans responsáveis pela transmissão via satélite das informações a respeito do misterioso caso estavam estacionadas uma rua acima da delegacia da cidade; os policiais entenderam que uma multidão causaria problemas para uma pequena delegacia de polícia e isolaram a rua para carros. Apenas os repórteres poderiam passar do bloqueio. E assim fizeram. Pelos cantos da rua, quilômetros de cabos de energia se amontoavam para que as câmeras pudessem ser mantidas a postos a qualquer momento. Quando mais ninguém conseguiu novas informações sobre o homem, uma das empresas de televisão conseguiu uma entrevista exclusiva com o Buscador.

            – Muito bem – começou o famoso jornalista – Podemos começar? 

            – Sim. 

            – Qual o seu nome? 

            – Eu não sei. – O Buscador respondeu após ficar alguns segundos em  reflexão. – Na verdade, eu não sei de muita coisa...

            – Entendo... – O jornalista fez uma rápida anotação no pequeno bloco que segurava. – O senhor poderia me contar sobre o dia em que foi achado?



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