15 anos do Auto da Compadecida: O filme que inaugurou o Cine-TV


César Augusto de Oliveira Ferreira

e

Abimael Júnior
Ariel da Silva Feitosa
Danilton Lima Portela
Lucas Ribeiro da Cruz
Paulo Henrique Herculano[1]


Resumo

Este artigo é produto do Trabalho de Conclusão de Curso do curso de Tecnologia em Produção Audiovisual e procura destacar o recente marco de quinze anos do filme O Auto da Compadecida, Guel Arraes, 2000, que marcou o cinema brasileiro por apresentar, no cinema, um formato bem comum das produções televisivas, gerando um produto híbrido de cinema e televisão, o CINE-TV. O filme inaugurou ainda um formato de mercado que seria utilizado nas produções da Globo Filmes ao longo do período mencionado. Faz-se ainda um apanhado histórico do modelo de cinema praticado no Brasil durante o século XX e um paralelo à produção do curta-metragem “Tião de Acaraú”, de 2015.


Palavras-chave: Auto da Compadecida, Globo Filmes, Cinema Brasileiro, Cinema da Retomada.

Introdução                                                                        

            No dia 10 de Setembro de 2000 estreava em 95 salas de cinema do Brasil um filme audacioso. O público já conhecia a história, que passara na televisão dois anos antes, e os atores eram famosos pelos personagens representados. O mercado cinematográfico estava apreensivo. Como poderia essa narrativa já contada fazer sucesso? O Auto da Compadecida se tornaria, surpreendentemente, o primeiro filme de grande sucesso após a crise dos anos 1990 que o Cinema Nacional passou: Mais de 2,1 milhões de pessoas foram ao cinema ver João Grilo e Chicó se envolverem nas mais diversas estratagemas. Só não foi para o Oscar pelo fato da Academia só aceitar filmes que haviam tido sua estreia no cinema. Televisão não entra.

            Mas o filme, que fez o caminho inverso dos filmes “normais”, saindo da televisão e indo para o cinema, não seria um indício de que algo na indústria estava mudando? Seria esse o momento temido pelos cineastas do Cinema Novo, a invasão do formato televisivo-massivo no cinema? Seria o fim do cinema como arte? Quinze anos depois do Auto, o cinema brasileiro apresenta os primeiros sinais de produção mercadológica, industrial. Em que pessoas vão às salas de cinema, e gostam do que vêem. Mas quanto de televisão tinha o filme, no cinema? Mas antes de analisar o Auto da Compadecida, é que se entenda como foi o século XX para a cinematografia brasileira.

O cinema no Brasil no século XX.

O Brasil chegou a um momento interessante de sua história cinematográfica: mais e mais filmes brasileiros estão sendo lançados. Há também crescimento do público: segundo dados levantados pelo Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual, em 2014 foram vendidos 155.500 milhões de ingressos no país. Destes, 19 milhões para filmes nacionais. Dez anos antes, o índice foi de 114.723 milhões/16 milhões. Infelizmente, não há um padrão de crescimento: em 2003 foi 102.958 milhões/ 22 milhões. Em 2005, 89.761 milhões/ 10 milhões. Já a partir de 2009, o público total só aumenta, mas o público do cinema nacional continua flutuante. Ainda segundo os dados do OCA, em 2004 a média de público foi de 326 mil pagantes por filme nacional contra 166 mil em 2014 (Observatório do Cinema e Audiovisual, 2015). Evidenciando que o público continua o mesmo, mas a oferta de filmes aumentou: eram 49 em 2004 e 114 em 2014. Ainda segundo o escritório, dos 100 filmes nacionais mais vistos lançados entre 1970 e 2014 e com mais de 500 mil espectadores, 38 foram produzidos a partir do ano de 2000.

Segundo o pesquisador Jean-Claude Bernardet (2009) desde o início do século XX que as produções nacionais encontram problemas para serem vistas e consumidas como produto. Para ele, devido a “uma total falta de visão do cinema como mercadoria, uma incompreensão da estrutura do mercado internacional bloqueavam qualquer possibilidade de entender a situação.” (p. 46). E a distribuição dos filmes nacionais se tornou logo um problema.  Expandindo, Pedro Butcher (2006) afirma que

A vontade de estabelecer modelos de produção auto-sustentáveis para a fabricação de filmes nacionais envolvidos em um discurso de “qualidade artística”, buscando alcançar o grande público, e que pudessem competir com o cinema estrangeiro, será o princípio regente das experiências da Cinédia, Vera Cruz e Maristela. Mas todas essas tentativas se revelarão precárias e problemáticas na medida em que os empreendimentos careciam de uma real perspectiva comercial, ao mesmo tempo em que encontravam um mercado já ocupado pela produção norte-americana e de dimensões ainda insuficientes para lhe garantir a autosustentabilidade. (BUTCHER, 2006 p. 30)

Nessa época, já de domínio estrangeiro das salas de exibição, filmes brasileiros só eram elogiados caso pudessem ser comparados aos filmes estrangeiros, gerando um processo que Bernardet caracterizou como “arraigado complexo de inferioridade” (2009, p. 31) que se dava frente ao cinema estrangeiro: “Brasileiro não presta para fazer cinema”, que seria combatido com o surgimento do nacionalismo dentro do cinema, em que estimulava-se a ida ao cinema como apoio ao produto nacional e, “o prazer para o espectador brasileiro assistindo a filmes brasileiros nasceria justamente do fato do filme ser brasileiro e, se mesmo assim não funcionasse, o prazer poderia nascer de estar ajudando a indústria cinematográfica nacional. Quase um dever patriótico.” (BERNARDET, 2009, p. 46), mas esse tipo de publicidade não durou muito: o discurso não era suficiente para modificar a estrutura mercadológica do cinema brasileiro.

Em 1949 é criada a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, aliando-se a elite paulista que procurava e insistia pela produção de filmes nacionais quando se reunia nos inúmeros cineclubes espalhados por São Paulo e a empresa ganha certo prestígio e reconhecimento com seus filmes. A Companhia produziu mais de vinte filmes antes de interromper seu funcionamento, em 1953 por falta de dinheiro: Além de ter de concorrer com as dezenas de filmes estrangeiros lançados no país, não havia forma de distribuir os filmes que produzia e, tendo que entregar seus filmes na mão de distribuidores, perdia grande parte da (pouca) arrecadação obtida. [2]

A indústria cinematográfica brasileira em 1960, com o surgimento do Cinema Novo não se desenvolve e Butcher (2006, p 34) acredita que em boa parte por conta dos ideais defendidos naquela época, o cinema de autor, fortemente influenciado pelas ideias francesas da Nouvelle Vague:

O projeto nacionalista dos idealizadores do Cinema Novo, Glauber Rocha à frente, foi marcado por uma postura radicalmente antiindustrial e anti-hollywoodiana. Glauber, em especial, seria enfático ao afirmar a impossibilidade de coexistência do cinemaidéia e do cinema-comércio, defendendo uma contraposição radical entre autoralidade e indústria. Se cabia a Hollywood fazer o cinema industrial, a única saída para o cinema brasileiro seria o cinema de autor, assumindo sua precariedade e radicalizando na sua independência de visão. (BUTCHER, 2006, p. 34)

            Era vista assim necessária intervenção do Estado, que desde 1932 interferia pouco na entrada de filmes estrangeiros no Brasil e, que cedendo a pressões de cineastas, são criadas as cotas de tela (Gráfico 1), mas que acabavam por proteger o cinema estrangeiro, deixando ao cinema nacional apenas as “migalhas” do tempo imenso que tinham os filmes estrangeiros para exibição. Após o Golpe Militar de 1964, a censura se estabelece fortemente, e o discurso nacionalista toma força mais uma vez e o Estado abraça as produções cinematográficas no país e cria a EMBRAFILME, em 1968. Ao mesmo tempo, vê-se crescimento exponencial da televisão no país.

Para Santos e Cardoso (2011, p. 74), “pode-se afirmar que o cinema brasileiro caracteriza-se pela emergência de ciclos com grande produção, restritos no tempo e no espaço, e não pela sistemática industrial.” e, com a criação da EMBRAFILME em 1968, no período mais duro do período militar, objetivando desenvolver o cinema brasileiro, o cinema nacional teve o seu apogeu sob o modelo de produção e distribuição desta empresa. (SÁ-EARP e SROULEVICH, 2009, p. 2). A EMBRAFILME, mesmo aplacando sucessos de bilheteria, não resistiu à crise econômica dos anos de 1980 e ao processo de redemocratização da sociedade e, com pouca força e apoio político, foi encerrada em 1990, no governo Collor. Deixando o cinema brasileiro deficiente, o fim da EMBRAFILME marcou o pior período da capenga indústria cinematográfica: apenas três longas-metragens seriam produzidos no ano de 1993. (SÁ-EARP e SROULEVICH, 2009, p. 2)

No mesmo ano da quase nula produção cinematográfica brasileira, é criada a Lei do Audiovisual (BRASIL, 1993), que permite que empresas possam usar os impostos que devem para investir em projetos audiovisuais aprovados, naquele momento, pelo Ministério da Cultura (em 2001 esse papel foi transferido para a recém criada Agencia Nacional de Cinema), dando novo estímulo às produções. Nesse período, até 1997, viu-se leve ascendência na produção nacional com filmes de relativo sucesso, que se intensificaria e tomaria aparência de indústria real com a criação da Globo Filmes em 1998. Para Sá-Earp e Sroulevich (2009), ela

tem um papel duplo e esteve associada a praticamente todos os filmes nacionais de sucesso desde sua fundação. Produz filmes com recursos próprios, beneficiando-se de economias de escala e escopo através da capacidade instalada – infraestrutura, parque de pós-produção, equipamentos e talentos - da TV Globo e também estabelece parcerias de comercialização caso-a-caso no Sistema Globo (com spots em rádio, TV e afiliadas) que auxiliam a promoção e inserção de mídia de diversas produções nacionais. (SÁ-EARP, SROULEVICH, 2009. p. 6)

Para vários pesquisadores, (BUTCHER, 2006; GUIDOTTI, 2008; SANTOS e CARDOSO, 2011) a Rede Globo de Televisão conseguiu algo que parecia impossível anos antes, no batendo todos os recordes anteriores e se afirmando como uma das maiores produtoras já no começo dos anos 2000, capaz de dominar o mercado de forma nacional. O sucesso é resultado de uma série de fatores, como explicitaram Santos e Cardoso (2011):

A estrutura das Organizações Globo, principalmente a da Rede Globo de Televisão, ajuda a divulgar os filmes: são feitas matérias de bastidores enquanto o filme está em produção e entrevistas com atores ou diretores, que são exibidas em telejornais e outros programas e, quando do lançamento no cinema, propagandas são inseridas nos intervalos da programação. Além disso, as produções contam com o apuro técnico característico da emissora, que, desde a década de 1970, estabeleceu um “padrão de qualidade” alto. Após encerrar a carreira no circuito exibidor e de ser lançado para consumo doméstico, o filme ganha espaço na grade da TV. (SANTOS e CARDOSO, 2011, p 76)

Para Rodrigues Souza (2003, p. 194), todo esse sucesso e poder adquirido pela Rede Globo no mercado audiovisual começaram em 1998, com a produção de uma adaptação com recursos próprios de uma peça popular de Ariano Suassuna: O Auto da Compadecida (1955). Esse lançamento inauguraria a forma de se fazer cinema da Globo Filmes e também mudaria a forma de se fazer cinema no Brasil, que apresentaria pela primeira vez, um modelo industrial. “A TV Globo arregimentou setores da produção e passou a interferir com firmeza no sentido de tornar alguns filmes brasileiros produtos competitivos em relação ao produto americano, o que seria uma oportuna demonstração de força em um campo dominado pelo produto estrangeiro.” (BUTCHER, 2006, p. 15)

O Auto da Compadecida

O Auto de Compadecida foi adaptado para televisão em 1998, por Guel Arraes, que na época já havia participado de programas humorísticos de sucesso na Rede Globo, como TV Pirata (1988-1990, 1992) e Casseta & Planeta (1992-2010). Dedica-se a partir de então à “um certo tipo de dramaturgia especial, tomando por base clássicos da literatura e do teatro, adaptando-os para a TV, como Memórias de um Sargendo de Milicias, O Besouro e a Rosa, O Mambembe, Lisbela e o Prisioneiro, O Coronel e o Lobisomem e o Auto da Compadecida.” (RODRIGUES SOUZA, 2003, p. 193) e dentro da emissora, passa a comandar um grupo de talentos que produziria grandes sucessos da TV e do cinema nacional.

Na obra, é contada a história dos habitantes de Taperoá, cidade do interior da Paraíba nos anos 1930, que envolvem-se nos mais variados tipos de confusões, principalmente naquelas causadas por João Grilo,

um arquétipo do pícaro na Península Ibérica. Figura farsesca e lendária que faz parte do imaginário popular presente na Literatura de Cordel. [...] Utilizando-se do artifício da mentira e de sua esperteza, João Grilo luta pela sobrevivência tentando tirar proveito de espertalhões, de bobos e “lesos” como Chicó, ele não abusa, tem compaixão.[...] Outra característica deste personagem mítico é que ele é intrinsecamente insubordinado, desafia os que estão no poder. É extremamente brasileiro, na medida em que somos um povo formado de sobreviventes. (RODRIGUES DE SOUZA, 2003, p. 142)

Essa esperteza característica do personagem é o que move a narrativa para frente. Inventando história atrás de história, João Grilo vai envolvendo toda a cidade num plano mirabolante, que vai desde a evitar que um grupo de cangaceiros saqueie Taperoá a impedir que todos eles, depois de mortos, sejam levados para o inferno. Tudo isso usando sua habilidade de criar situações que ou ludibriaria os demais personagens ou os fazia acreditar estar agindo de acordo com as próprias convicções, enganando-se muitas vezes no desfecho daquela determinada confusão.

Cada um dos personagens têm suas histórias particulares e eles podem ser considerados também como protagonistas do filme. O Padre e o Bispo tentam o tempo todo enriquecer, cada um eu seu contexto particular de igreja-pequena-diocese-grande; Dora quer “apagar o fogo” traindo seu marido, o padeiro, que sabe da infidelidade da esposa, mas deixa-se enganar; Antônio Morais, rico fazendeiro que quer casar a filha com um homem rico para lhe dar herdeiros e Rosinha, sua filha criada na Capital; E Chicó, que pobre e sem muitas oportunidades na vida mente para ganhar um pouco de visibilidade e esconder sua falta de braveza. João Grilo é igualmente pobre, mas esperto.

Essa característica de múltiplos protagonistas, segundo Neffa Sader (2006) é típica em telenovelas, que apresentam várias tramas e vários protagonistas:

com vários personagens principais, as possibilidades de identificação e de escolha aumenta. Crescem também as chances dos diversos espectadores verem suas preferências contempladas e a de terem várias predileções numa história composta de muitas tramas interligadas.” (NEFFA SADEK, 2006, p. 127)

e essas tramas interligadas acabam por diferenciar a estrutura da narrativa do cinema. Ainda segundo Neffa Sadek (2006), as telenovelas mesmo tendo aprendido a visualização da imagem com o cinema, quebra o padrão aristotélico das narrativas quando passam a contar a história de vários personagens simultaneamente. 

O Hibrido Cine-TV

O filme Auto da Compadecida (2000), foi o primeiro com a marca Globo Filmes e definiu toda a forma de se fazer cinema da nova empresa, caracterizando o cinema brasileiro como híbrido de TV e Cinema e inaugurando uma nova forma de se fazer cinema no Brasil.. Para Flávia Guidotti (2008, p. 76), esse hibridismo causa uma mudança significativa nos modos audiovisuais: “Morre uma técnica de produção semi-artesanal derivada da Revolução Industrial, uma certa tecnologia de base mecânica e uma modalidade de sustentação econômica e, atrelado a um contexto de permanente (re)invenções[sic] culturais, estéticas e tecnológicas.”

O filme, originalmente uma mini-série para TV com quatro capítulos, foi um sucesso. Como a série havia sido realizada em película cinematográfica de 35 mm, foi reeditada para o cinema. Dois anos depois, alcançou expressivos 2 milhões de espectadores na telona e conquistou o público e a crítica especializada pelas diversas inovações que apresentava. Convidativa, a Globo trazia para os lares de milhões de brasileiros (e mais tarde milhões de pessoas iriam ao cinema para ver essa mesma história), a cultura popular, quebrando

não somente o que podemos chamar de ‘tabu midiático’ entre cinema e TV, mas trouxe uma obra clássica da nossa literatura brasileira de forma a não perder, ao contrário, a valorizar, sua essência, o sentimento sertanejo com seus contos mítico, sua simplicidade, superstições, crenças, e a ‘vida Severina’ do Sertão, com muito bom humor. (RODRIGUES SOUZA, 2003. p.62)

Tentar definir onde começa e termina um produto audiovisual e quais linguagens ele utiliza para formar sua identidade fugiria da proposta deste trabalho. E considerando ainda a questão tecnológica, com um período que Jenkings (2006) definiu como marcado pela convergência entre as ferramentas de produção, procura-se aqui identificar os elementos presentes na narrativa tipicamente televisiva no filme O Auto da Compadecida (2000). Desconsidera-se ainda a influência óbvia do cinema nas produções televisivas e propõe-se que sejam observados os usos de técnicas empregadas principalmente nas produções televisivas, como as telenovelas, já mencionadas anteriormente. A partir daqui, se verificará as estratégias técnicas para construção do Auto de Guel Arraes.

São essas características que serão abordadas nos tópicos seguintes, a partir da análise frame-a-frame sugerida por Manuela Penafria (2009), que permite serem analisadas as imagens em sequência, não só dos planos e enquadramentos, mas também a disposição delas no filme e sua participação na montagem. 

esses fotogramas são um suporte fundamental para a reflexão já que permitem fixar algo movente, as imagens de um filme. Propomos aqui que esse procedimento seja produtivo em outros momentos de reflexão. Para tal é necessário que esses fotogramas não sejam apenas utilizados para embelezar o texto, há que transformá-los num instrumento de trabalho. (PENAFRIA, 2009, p. 7)

Para Sônia Rodrigues (2014, p. 30), “um mundo inconfundível bem construído é garantia de verossimilhança, é o que provoca empatia no espectador.” Ainda sobre o tema, para a pesquisadora, quando criando um produto audiovisual, “os criadores levantam um mundo próprio, e esse mundo inconfundível é coeso e único.” (2014, p. 26). Para a televisão, o mundo inconfundível precisa ser apresentado de forma muito rápida. O que explica ainda nas primeiras cenas que João Grilo já seja caracterizado como um esperto, Chicó como covarde e o Padre, corrupto. Já fica bem claro o lugar onde a história se passa e a relação dos personagens com esse ambiente. Para Burini e Moura (2013), “A linguagem da televisão passou por um processo evolutivo que conduziu o modo de edição, antes determinado pelos planos-sequência, para um modelo fragmentado, no qual prevalece a estética da velocidade em detrimento da estética da profundidade.” (p. 107), uma característica bem forte do Auto da Compadecida, aqui se considerando os dois produtos de Arraes.

Num esquema clássico, uma novela deve primeiramente apresentar um plano geral do local onde vai ocorrer a ação, mas este deve ser muito rápido, para não tirar o foco da narrativa. Não há espaço para muita visibilidade: é importante contar a história de forma clara. Em seguida, são apresentados os personagens, assim como no cinema clássico, e eles prosseguem à ação. [3]

Há necessidade de se prender a atenção do telespectador e do espectador, que “pode mudar de canal quando quiser, sem se levantar da cadeira. [...] Assim, a televisão compete, por um lado, com as outras fontes de movimento e de ação do mundo real [...] e influencia, portanto, na forma como estas mesmas narrativas são arquitetadas.” (NEFFA SADEK, 2006, p. 57). No Auto, o espectador absorve uma enxurrada de planos e diálogos automática: João Grilo fala rapidamente, os contra-planos acompanhando o diálogo acelerado. A câmera está bem próxima dos atores, e se movimenta junto com eles. Dando mais ritmo ainda à narrativa, influenciadas pelas telenovelas, encadeiam-se as informações, começando diálogos em uma cena e terminando na seguinte. Ou ainda que a cena seguinte responda a perguntas da cena anterior. O Auto da Compadecida está cheio dessas situações, que, para manter a história acontecendo, suprime as reais intenções de João Grilo, que são logo respondidas nas cenas seguintes, que geralmente são as estratagemas em ação. “Esta linguagem vai se tornando cada vez mais dinâmica, e a consciência de manter o público telespectador ‘ligado’ vai desenvolvendo cada vez mais uma preocupação da estética visual para apoiar o conteúdo.” (BURUNI E MOURA. 2013. P. 4)

No filme, há extensa fragmentação da cena, com inúmeros planos e contra-planos, montados em velocidade alta, às vezes com duração inferior a um segundo. O diálogo de João Grilo como Padre na Igreja, logo após a abertura do filme é marcado por essa característica, com montagem extremamente rápida e grande quantidade de planos.

            Essa fragmentação é muitas vezes motivada pela necessidade de se chamar atenção para elementos menores, diga-se de tamanho. As televisões são, em geral, de tamanho pequeno (muito menor que uma tela de cinema) e seria difícil para o telespectador entender certos elementos na tela. Aproxima-se, dessa forma, a câmera dos personagens e dos objetos importantes para a narrativa. “Para que mesmo com a drástica redução da tela, todos os detalhes aparecessem nítidos [...], os Grandes Planos Gerais acabaram caindo em desuso em detrimento de enquadramentos mais fechados, como os Primeiros Planos e os Close-ups.” (GUIDOTTI, 2009, p. 75). É sempre evidente a expressão dos atores: vê-se as lágrimas, o choro exagerado e a falsidade.

Há ainda a questão do som, que dá suporte às imagens e frequentemente reafirma o que se vê. “A televisão odeia o silencio. A imagem na televisão precisa constantemente da muleta do som e quase sempre da palavra. [...] A televisão não cala a boca.” (FURTADO, 2001). Para que se compita com a atenção do telespectador que ao mesmo tempo em que assiste à televisão, faz outra coisa, como a senhora cozinhando alguma coisa na cozinha e “ouvindo” o desenrolar da narrativa, ou o usando as redes sociais para conversar com colegas a milhares de quilômetros distantes.

Há grande quantidade de diálogos e pouca quantidade de “silêncio”. Na cena em que João Grilo leva um tiro e morre, não há silêncio: Há trilha sonora comovente e Chicó, chorando e acompanhando seu amigo nos últimos suspiros. A trilha sonora fica evidente. Chicó chora e com o corpo do amigo clama todo o texto do original de Suassuna: “Ai meu Deus! Morreu o pobre do João Grilo! Um amarelo tão safado morrer assim! Que que eu faço no mundo sem João?” (SUASSUNA, 1954 [2004]) e andando, vai saindo da igreja. Mesmo já na cena do tribunal das almas, em que uma reação mais introspectiva seria mais esperada, os personagens falam o tempo todo, irritando a todos e ao Diabo, que entra logo em seguida.

A trilha sonora ajuda ainda a compor a atmosfera e reforçar as intenções dos personagens. Quando Dora planeja ou comete adultério, a música “Rói-couro” é tocada. “Presepada”, música que marcou o filme, é tocada toda vez que João Grilo está preparando ou no meio de uma confusão. (RODRIGUES SOUZA, 2003, p. 207). Ainda no quesito sonoro, há ao longo do filme várias inserções de efeitos sonoros que complementam a narrativa, como os sons do gato, quando inserida ou retirada a moeda de dentro de si ou Cabo 70 se arrumando para o duelo com Vincentão e sons dos objetos que funcionam como as muletas mencionadas por Furtado.

Tião de Acaraú e O Auto da Compadecida

            O filme Tião de Acaraú foi criado no segundo semestre de 2015 para homenagear os 15 anos do lançamento do filme O Auto da Compadecida, em (2000). E para o texto, vários empréstimos ao original de Suassuana foram feitos, principalmente para os personagens dos Soldados. Com cinco personagens principais, Tião de Acaraú conta a história de Tião, que volta à Acaraú, mal vestido e faminto, não imaginando que seria arrastado à cadeia para questionamentos: Estelionato. Tião coleta dinheiro para sair de Acaraú atrás de um deputado, mas volta sem nada. Esperto como João Grilo, Tião tem logo uma ideia para recuperar a confiança da cidade e envolve outros personagens do curta em seu plano de rifar uma vaca.

            Como se seus planos fossem fadados a dar errado, Tião realiza todos os passos para concretização do plano e, apenas no final, o inesperado acontece e tudo dá errado. É o momento em que Tião tem que decidir se insiste para continuar na cidade ou se sai de Acaraú, assumindo a culpa por delitos que ele não cometeu.

            Os personagens dos soldados foram criados baseados nos personagens Chicó e João Grilo, assemelhando-se a eles principalmente pelo texto. No Auto de Guel Arraes, há sempre a presença da peça original, com os diálogos reproduzidos com fidelidade e, às vezes, até mesmo o jogo cênico proposto por Suassuna. Os soldados, em Tião de Acaraú, carregam não só o texto, mas toda a fuga da realidade proposta no Auto de Arraes. Querendo ser sempre algo mais do que são, os soldados vivem a ilusão de pertencerem ao exército da vila de Acaraú e fogem sempre da realidade. Algo semelhante às histórias duvidosas de Chicó que sempre são encerradas com o famoso bordão “Não sei, só sei que foi assim!”, e mostradas de forma completamente diferente àquela da narrativa usual: em forma de cordel, a história imaginária de Chicó é mostrada destoando completamente do restante do filme. Este recurso visual para demonstrar a imaginação do personagem foi aproveitado em Tião de Acaraú, com a cena do interrogatório. Os soldados estão muito bem arrumados, falam bom português e estão em uma sala escura, como na representação dos investigadores dos filmes Noir dos anos 1960. Fica implícito que aquela representação acontece na mente dos personagens pela entrada de Roberval, que interrompe o momento ilusório dos personagens.
            Acaraú também é um elemento que foi importado do Auto da Compadecida. Taperoá é uma cidade do interior, talvez parada no tempo para as mudanças tecnológicas da capital e que mantém relação pouco estreita com cidades maiores. Não há pavimentação nas ruas e tudo parece pertencente à períodos mais antigos. Em Acaraú verifica-se certa proximidade com cidades mais avançadas, com certa evolução tecnológica e política: diversos elementos como alguns veículos, lâmpadas, os equipamentos dos soldados, os calçados e os equipamentos do trio de forró destoam de itens antigos, como o rádio da cena de abertura, a mala de Tião, a televisão e máquina de costura de Ângela e o mimeógrafo utilizado para confeccionar as rifas. Politicamente, percebe-se que há discurso político presente na pequena cidade, que empresta dinheiro para Tião buscar ajuda de algum deputado. Acaraú pode, assim, se assemelhar tanto à Taperoá do filme de Guel Arraes quanto à alguma cidade próxima à capital – ou o Rio de Janeiro dos anos 1950, a Fortaleza de 1990 ou a Brasília de 2010.

            A linguagem televisiva do Auto da Compadecida foi também bastante incorporada em Tião de Acaraú. A aproximação dos enquadramentos, acompanhados da velocidade acelerada da montagem caracterizam Tião de Acaraú. O início do filme começa com bastante velocidade, com Tião chegando na cidade e sendo levado para interrogatório, saindo da sala , conversando com Roberval e logo em seguida com Ângela. Já nesses primeiros minutos de filme é apresentada toda a premissa do curta: Tião é considerado um trambiqueiro, e volta para Acaraú por não ter conseguido nada melhor no lugar onde ele foi procurar.

Na sequência final (Figura 6), em que Tião recebe a notícia de que as vacas de José Soares haviam sido roubadas, há bastante velocidade tanto na montagem, como no dialogo dos personagens. O momento é de tensão e os personagens precisam tomar uma decisão rápida para solucionar o problema e evitar uma grande confusão com os cidadãos que esperam pelo sorteio da rifa do lado de fora da igreja. Os planos são bem próximos, deixando a reação dos personagens bem evidente. O padre grita “Vishe, minha Nossa Senhora!” A personagem Angela se desespera. O plano retorna ao padre, que grita que o dinheiro fora roubado. Tião cai e corta para o trio tocando de fora da igreja. Não fica muito claro o que acontece em seguida, e após uma conversa dos soldados, todos os quatro saem da igreja, para falar com a população reunida, resolvendo o mistério criado anteriormente.

            A trilha sonora é também bastante presente, sendo responsável por gerar climas em todo o filme, e participa da construção de vários momentos. Ela foi composta baseada na trilha sonora do Auto da Compadecida (2000) e utilizou de recursos da música eletrônica para aproximar o público do filme. A letra do tema principal do filme foi escrita para que o espectador saia da sala de exibição cantarolando a melodia facilmente memorizável: “Tião, Tião, Tião... de Acaraú...”

            No Auto da Compadecida os personagens enquanto vivos vão à igreja para qualquer motivo menos para rezar e, mortos, para serem julgados em um tribunal em que o Diabo é o procurador. Em Tião de Acaraú o julgamento já aconteceu e o culpado é Tião, que será provavelmente morto caso pego. Controversamente, como no Auto, apesar de haver vários momentos do filme se desenrolando dentro da igreja, os personagens não buscam o contato com algo divino. E é apenas na hora do desespero, quando o dinheiro some (seja por morte ou por roubo) que a “Nossa Senhora”, ou a “Compadecida”, é lembrada: não há mais nada a se fazer no mundo dos homens e busca-se ajuda daqueles que podem mobilizar forças ainda desconhecida aos meros mortais da Terra. Características presentes nos dois filmes em questão.

Considerações Finais

            O Auto da Compadecida foi sem dúvidas um marco no cinema brasileiro. Atraiu milhões de pessoas aos cinemas para ver um produto não-inédito e permitiu que vários outros filmes com o mesmo formato fossem realizados: Caramuru – A Invenção do Brasil (2001),  Lisbela e o Prisioneiro (2003), Os Normais: O Filme (2003), Casseta e Planeta: A Taça do Mundo é Nossa (2003), Antônia: O Filme (2006),  A Grande Família – O Filme (2007), Cidade dos Homens (2007),  Os Normais 2  - A Noite Mais Maluca de Todas (2009),  O Bem Amado (2010), Minha Mãe é uma Peça – O filme (2013), Meu Passado me Condena- O filme (2013), Crô: O filme (2013), Os Caras de Pau em O Misterioso Roubo do Anel (2014) e Cheias de Charme: O Filme (2016). Todos criados a partir de um produto existente previamente na televisão ou em outro meio popular. Caso o critério para seleção fosse a linguagem utilizada, anteriormente analisada, essa listagem seria ainda muito maior.

            Não queremos aqui afirmar que o Auto ditou como se faria cinema no Brasil a partir daquele momento, nem reduzir as produções da Globo Filmes como se pode fazer com os filmes Hollywoodianos que obedecem ao formato clássico. Entendemos, porém, que o filme ajudou a Globo Filmes a se definir e definir como participaria do mercado audiovisual brasileiro. A maioria dos filmes citados foram produzidos nos primeiros anos da então “cinematografia global”, e moldaram o formato em que seriam feitos os filmes a partir daquele momento. Querendo se tornar a chefe da produção de cinema no Brasil, a empresa optou por atuar como co-produtora das mais diversas produções, influenciando no filme desde a escrita do roteiro até a escolha dos atores que atuarão e, em troca, oferece todo o conglomerado de mídia que dispõem para divulgação. Mais ou menos promoção só depende de quanto os produtores cederem às exigências da Globo Filmes.

            O que é certo é que há público indo aos cinemas e buscando conteúdo brasileiro para se ver. Mais e mais pessoas vão ao cinema e, a verdade, é que não se quer mais ir ao cinema para ver algo que se veria na TV. O modelo Cine-TV inaugurado pelo Auto já não mais gera grandes sucessos, custando superar a barreira dos dois milhões de espectadores, enquanto os filmes que ousaram ganharam mais visibilidade. Tropa de Elite (2007) não ganhou muita visibilidade, mas a música forte, roteiro marcante, atores famosos e larga exposição midiática fizeram com que Tropa de Elite 2 fosse o filme mais visto do cinema brasileiro em toda a história, com mais de 11 milhões de ingressos vendidos. Se Eu Fosse Você 2 (2009) passou pelo mesmo processo, assim como De Pernas pro Ar 2.

            E por que ainda insistir em levar as telenovelas e minisséries para o cinema em 2016 se, aparentemente, a receita para o sucesso está em inovar? Ou seria proposital a presença de filmes não tão bem sucedidos, em uma estratégia de valorização das ideias inovadoras? Seria coincidência serem lançados três filmes[4] de temática religiosa no mesmo ano em que seria lançado um filme de um herói brasileiro chamado Capitão Nascimento? Seria a abundância de filmes uma tentativa de se emplacar pelo menos um sucesso, como o lançamento de 20 filmes em 2013 e apenas 3 alcançando mais de 3 milhões de ingressos vendidos? Seria o Cine-TV uma forma de se manter produzindo, mesmo quando não há de fato produto comercialmente viável para se filmar, apoiando-se nos sucessos da TV, como em 2007, em que o único filme de maior expressão da Globo Filmes foi A Grande Família, com dois milhões de espectadores? É o Cine-TV carta na manga para o cinema e veio para ficar e se consolidar no Brasil, ou é só uma estratégia de uma indústria ainda em processo de estabelecimento?

            E encerramos esse trabalho com a observação de Becker e Machado (2008), que souberam expor os perigos dos produtos padronizados, bastante comuns nas telenovelas e nos filmes Cine-TVs:

O medo do insucesso faz com que os produtores repitam até à exaustão modelos e fórmulas já testadas e aprovadas, evitando, tanto quanto possível, os arroubos de criatividade, a experimentação de novas formas ou intromissão em temas demasiado polêmicos. Com isso, criam-se rotinas de produção que acabam por se mumificar com o abuso da repetição e que tornam o produto altamente previsível em termos de linguagem, desenvolvimento de enredo, temáticas, inserção de merchandising etc. (BECKER e MACHADO, 2008, p. 2)



Referências Bibliográficas:


BRASIL. Lei nº 8.685, de 20 de Junho de 1993. Cria mecanismos de fomento à atividade audiovisual e dá outras providências. Presidência da República. Disponível em Acesso em Novembro de 2015.

BUTCHER, Pedro. A Dona da História - Origens da Globo Filmes e seu impacto no audiovisual brasileiro. Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006.

FURTADO, Jorge. Cinema e Televisão. Não-Til – Tecnologia e Contracultura. 2001. Disponível em , Novembro de 2015.

GUIDOTTI, Flavia; Reflexões acerca da emergência de um CINE-TV: o hibridismo como marca de um cinema brasileiro contemporâneo. Revista Famecos nº 19. Agosto 2008 Famecos/PUCRS

IMDB – Internet Movie Database. Globo Filmes. Disponível em

OBSERVATÓRIO BRASILEIRO DO CINEMA E DO AUDIOVISUAL. Agência Nacional do Cinema: Bilheterias - 2002 a 2014. Disponível em . 2015

PENAFRIA, Manuela. Análise de Filmes – conceitos e metodologia(s). VI Congresso SOPCOM. Universidade da Beira Interior, Lisboa, Portugal.  Abril 2009

RODRIGUES, Sônia. Como escrever séries: roteiro a partir dos maiores sucessos da TV. São Paulo, Aleph. 2014

RODRIGUES DE SOUZA, M. I. A.; O Auto da Compadecida: da Cultura Popular à Cultura de Massa - Uma análise a partir da Folkmídia. Programa de Pós-Graduação em Comunicação social da Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2003.

SÁ-EARP, Fabio; SROULEVICH, Helena. O mercado do cinema no Brasil. In: Políticas culturais: Reflexões e ações. São Paulo: Itaú cultural, Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 2009.

SANTOS, R. E.; CARDOSO, J. B. F. – A Globo Filmes e o cinema de mercado. Revista Famecos Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 72-85, jan./abr. 2011

SILVA, D. FABIO. Transposição do Imaginário Cultural religioso no Filme O Auto da
Compadecida de Guel Arraes. São Caetano do Sul: USCS, 2010

Apêndices


Quadro 1.
Histórico da reserva de mercado para os filmes nacionais no Brasil para cada sala de exibição.

1932
Exibe-se um filme educativo a cada sessão
1939
Um longa nacional por ano.
1950
Seis filmes por ano;
1963
1971
56 dias de filme por ano;
112 dias por ano
1998
49 dias de filmes nacionais por ano
2001
Cota decidida a cada ano
Atualmente:
Decidida a partir do tamanho do complexo exibidor.

Fonte: Bernardet, 2009, p. 53



Ficha técnica


Tião de Acaraú, Brasil, Comédia, 15 minutos.
  

Produção - Paulo Henrique Herculano



Roteiro - César Ferreira



Direção - Abimael Júnior

1º Assistente de Direção - César Ferreira

2º Assistente de Direção - Pedro Cardoso



Direção de Fotografia - Danilton Lima

Assistente de Fotografia - Márcio Andrade



Som Direto - Ariel Harler, Lucas Cruz.



Direção Musical- Ariel Harler

Arranjos: Jorge Bittar



Montagem e Finalização - Abimael Júnior



Direção de Arte: Paulo Henrique Herculano e César Ferreira

Figurino: Majú de Souza



Casting - Abimael Júnior



Claquete - Ruan Lucas de Sousa.



Still - Natália Ferreira



Tião de Acaraú (Tema)

Composição  - (Abimael Júnior/ Ariel Harler/ César Ferreira)

Música -  Ariel Harler e Jorge Bittar.

Arranjos: Jorge Bittar













Elenco:



Tião - Leno Jhaws

Padre Barbosa - Michael Sousa

Luci - Maju de Souza

Ângela - Fernanda Lima

Roberval - Pedro Cardoso



Soldado 1 – Lucas de Araújo

Soldado 2 – Eduardo Castro








[1] Todos são concluintes do curso de Tecnologia em Produção Audiovisual nas Faculdades ICESP/PROMOVE, em Brasília.
[2] Companhia Cinematográfica Vera Cruz Disponível em
[3] Linguagem da TV < http://www.midiaeduca.uff.br/index.php/o-universo-audiovisual-em-tex>                             
[4] Aparecida – O Milagre (2010), Chico Xavier (2010) e Nosso Lar (2010).




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